sexta-feira, 31 de maio de 2013

SOPHIA ...

                Nada melhor às vezes do que fazerem uma pausa e olharem as pessoas no seu próprio “espelho”, refletindo pensamentos, palavras e atitudes.
                Nem tudo que temos em mente deve ser declarado ou comunicado a outrem numa conversa, numa palestra, ou mostrado por escrito numa poesia, crônica ou artigo, e muito menos nas páginas de um livro.  Algo deve permanecer conosco, para meditarmos, como a água que brota de um manancial, se evapora, e volta a cair sobre si mesma, sublimada e purificada.
                Saber refrear esse ímpeto, de tudo divulgar, é uma coisa que aprendemos com o tempo e o amadurecimento.  E há lições que melhor aproveitamos no silêncio da meditação, para a economia do nosso próprio ser, para melhorarmos a nós mesmos e não aos outros.
                Pensar e escrever para si mesmo é uma regra terapêutica, moral e intelectual, que todas as pessoas deveriam observar, e não apenas os que fazem do escrever uma forma impulsiva de se comunicar ou declarar o que pensam sem refletir no efeito ou conseqüência de suas palavras.
                Existem idéias e conceitos cujas sementes devem primeiro germinar, brotar, florescer, frutificar e amadurecer no pé,  para só depois serem os frutos generosamente repartidos, a fim de que não façam mal ou causem alguma indigestão, e não tenhamos que nos sentir culpados ou arrependidos de os ter distribuído antes do tempo.
                Nossos antepassados indígenas, que habitaram este chão, e do qual não se consideravam donos, mas apenas usufrutuários, em sua primitiva porém sábia cultura não permitiam que seus filhos arrancassem frutos verdes; e lhes ensinavam que deviam observar a mudança das cores, que era o sinal da natureza, em sua linguagem muda, para mostrar que então sim podiam ser colhidos e consumidos.
                Este conhecimento não se perdeu; foi apenas atropelado no tempo pela voracidade imediatista que infelizmente também atinge os que pensam, escrevem e formulam com sofreguidão, com receio talvez de perder a primazia diante da competitividade e da ganância que o mundo lhes apresenta.  Mas a Mãe Natureza, todavia, em todos os planos, continua sendo a maior fonte de orientação, de conhecimento e de sabedoria.  Ela é um perpétuo manancial de aprendizado, de cujo seio sabiam beber os antigos, amando-a e respeitando-a, como geratriz da vida e de si mesmos, de sua instrução e aperfeiçoamento.
                Por esse “philos-gyné”: amor à Deusa Mãe e ao Conhecimento que dela obtinham, os gregos a chamavam, carinhosamente, de Sophia.


                                      Luciano Machado