quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

AMANTES, LIBERTINOS E SEDUTORES ...

Conta-se que depois do caso de Adão e Eva, um deus pagão dos gregos teria sido um dos primeiros sedutores da história, ao engravidar, metamorfoseado em touro, a rainha Pasifae, gerando o minotauro, metade touro, metade homem, que o rei Minos acreditava ser seu próprio filho. Também o rei Davi foi um sedutor tornando-se célebre o caso em que mandou matar um de seus generais para ficar com a mulher deste. Seu filho, o rei Salomão, entre mulheres e amantes, teve mais de oitocentas.
Depois vieram outros, homens e mulheres, como Cleópatra, Petrônio, Messalina e Agripina durante o império romano; Boccacio, Lucrecia Borgia, Maquiavel, Giordano Bruno, Rochester, Casanova, Don Juan e Rasputin.
Cleópatra, rainha do Egito, teve vários amantes, entre os quais Júlio Cesar e Marco Antonio e após a morte destes se suicidou fazendo-se picar por uma serpente.
Petrônio, grande cortesão do império romano, dividia-se entre as suas lides como conselheiro de Nero, a literatura e a arte de seduzir, de que era professor.
Messalina, sedutora e dissoluta, foi a primeira esposa de Cláudio. Surpreendida por este durante um bacanal em sacrifício a um deus pagão, foi mandada executar junto com seu amante.
Agripina, irmã de Calígula e mãe de Nero, mandou matar seu esposo e tio Cláudio, a quem seduzira após a morte de Messalina; e depois foi assassinada por ordem do próprio filho.
Boccacio, jovem poeta sedutor e escritor, fugindo da peste negra que atingiu a cidade de Florença, convidou um grupo de jovens e donzelas a passar uma temporada no campo, em total contato com o ar puro e o saudável ambiente da natureza, vivenciando, ali, e escrevendo, dez histórias amorosas, que se transformaram no livro Decamerão.
Lucrecia Borgia, filha do papa Alexandre VI, chegou ao ponto de seduzir seu próprio irmão e mandar matar seus amantes após as noites de orgia.
Maquiavel foi outro grande sedutor, entre uma missão e outra, como emissário dos príncipes e banqueiros, cujas mulheres, se fossem jovens e bonitas, dificilmente lhe escapavam.
Giordano Bruno, apesar de ser um frade dominicano, também foi um sedutor e morreu na fogueira como herege, traído e entregue à inquisição por seu senhorio, mas não sem antes ter estado com a mulher deste.
O Conde de Rochester, paralelamente à sua vida dedicada ao estudo, aos negócios e à família, foi protagonista de vários episódios amorosos extraconjugais.
A seguir vem Casanova, aquele que nas cortes se aproximava das mulheres dos príncipes e outros nobres e as encantava com sua cultura e suas anedotas e em cujas alcovas, na ausência dos maridos, penetrava furtivamente durante as madrugadas. Casanova seduziu e transou com mais de trezentas mulheres da alta nobreza européia.
Don Juan foi um dos maiores colecionadores de arte e sedutores da Espanha. Acusado de mandar assassinar uma de suas amantes e também o pai desta, diz a lenda que, reencarnando e disfarçando-se em estátua de pedra, o velho vingou a morte da filha e a sua, matando Don Juan.
Rasputin, conselheiro da corte russa, sábio e ocultista, era outro que não dormia em serviço quando lhe tocava fazer a corte às amigas da imperatriz e muito chifre ajudou a colocar na cabeça da aristocracia masculina daquele tempo. (Luciano Machado)

sábado, 25 de dezembro de 2010

AS PESSOAS E OS PORCOS ...

Eu esses dias li a seguinte manchete do jornal A Platéia: “Mesmo com lixeiras no local, maioria das pessoas joga lixo no chão do Parque Internacional.”
A respeito dessa questão – que é a EDUCAÇÃO DOS INDIVÍDUOS desde a mais tenra idade – eu me lembro dos meus tempos de colégio, no jardim da infância, no pré-escolar ou o seu equivalente, lá pelo ano de 1954. Ali as professoras nos ensinavam a lavar o rosto, incluindo as orelhas; a escovar os dentes ao levantar e após as refeições; como sentar-se à mesa; como segurar corretamente os talheres; não cuspir nem jogar nada no chão; não gritar; como andar no passeio público sem prejudicar as outras pessoas ou o espaço alheio e principalmente uma coisa: não ser porco nem relaxado. Naquele tempo as boas maneiras integravam, nas escolas, o currículo do ensino básico e fundamental.
Portanto, diante daquela manchete de A Platéia, eu imediatamente pensei o seguinte: a pessoa que escreveu esta manchete é muito educada; teve a delicadeza de grafar ‘pessoas’ em lugar de ‘porcos’ ...
Ora, jogar lixo no chão é coisa de porcos e não de pessoas, mas na acepção figurada e pejorativa da palavra ‘porcos’, refere-se a humanos, visto que os animais, entre os quais o porco, são asseados, e se porventura são criados em locais imundos, eles não têm culpa; a culpa é dos relaxados que os criam assim.
Há uns vinte anos ou mais, perto da época de natal, eu e o professor Juca Sampaio fomos, num domingo de tarde, lá no acampamento dos ‘sem terra’, adiante do Tajamar. Chegamos sem nenhum aviso prévio e o pessoal estava sesteando. Batemos palmas o chefe do acampamento levantou-se e veio nos receber. Era um engenheiro agrônomo. Perguntou-nos qual o motivo de nossa visita e lhe dissemos que desejávamos comprar um ou dois cordeiros abatidos para assar.
O cidadão, enquanto nos mostrava uma bela plantação de alfaces sob uma tela que a protegia do sol, respondeu que naquele momento não estavam criando cordeiros para abate nem para vender, pois a inspetoria veterinária estava investigando uma espécie de febre naqueles animais e havia recomendado que não fossem abatidos nem comercializados.
Mas perguntou-nos se não estaríamos interessados em leitões, pois estes sim estavam liberados para a venda e para o abate. E levou-nos até o lugar onde eram criados. Como eu e o Juca estávamos acostumados a ver porcos serem criados no charco e na lama, comendo todo o tipo de sujeira, lavagens e restos de alimento, ficamos impressionados com o asseio e a assepsia do local, todo revestido de azulejos brancos, ao ponto de sentirmos no ar um agradável perfume de lavanda.
-- Qual é o alimento desses leitões? -- perguntamos.
-- Eles se alimentam de farelo de milho e de ração rigorosamente selecionada – nos respondeu o engenheiro e pegou um filhotinho do chão.
Confesso que, diante daquela imagem de inocência e beleza, eu e o Juca ficamos completamente desencorajados da idéia de comer leitão assado.
Mas esta viagem que fizemos ao acampamento dos sem terra, longe de ter sido perdida, nos serviu para conhecer o lado positivo do meio rural, com a criação racional e metódica de animais, com base nos melhores e mais rigorosos preceitos de higiene e segurança. E ficamos convencidos de uma coisa: os porcos não são ‘porcos’. A porcaria, material e mental, provém dos seres humanos que não obtiveram, em suas casas ou na escola, a noção do que é ser uma pessoa civilizada, e uma coisa tão elementar: não aprenderam que não se deve jamais cuspir ou jogar lixo no chão.

(Luciano Machado)

domingo, 19 de dezembro de 2010

NOS CAMPOS E VÁRZEAS DO ARMOUR E SÃO PAULO ...

Lá pelo ano de 1954 ou 1955, quando eu contava seis ou sete anos, acompanhando meu irmão mais velho, o Beline, perambulávamos por entre as plantações de ervilha dos campos e várzeas do Armour, que eram despovoados, e também para os lados da charqueada São Paulo, para caçar e pescar. Meu irmão tinha cinco cachorros, três galgos lebreiros e dois perdigueiros, que também nos acompanhavam nessas ocasiões por entre as colinas, várzeas e açudes onde havia todo o tipo de animais silvestres, desde ratões do banhado, patos, marrecos, garças e outras aves raras que vinham de longe, ali passavam o dia, e no final da tarde levantavam vôo para não sei onde. Mas o que caçávamos eram lebres e perdizes.
Morávamos no bairro Industrial, a meio caminho dos frigoríficos Armour e São Paulo. Depois da carreteira do Armour havia uma cerca, uma floresta de eucaliptos, outra cerca, e depois a estrada das tropas. A ‘estrada das tropas’ era assim chamada pelo fato de as tropas de gado e peru serem conduzidas por aquela estrada de chão, toda acidentada, cheia de altos e baixos, própria unicamente para servir de acesso a tropas de animais para abate no Armour. Depois da estrada das tropas, atravessando outra cerca, estendia-se uma vasta plantação de ervilhas e melancias, de propriedade da Swift-Armour, que abastecia a produção de conservas de ervilha em latas para serem exportadas.
E ali, no início daquela plantação de ervilhas, começava a nossa incursão de caça e de pesca. Mais do meu irmão do que minha. Pois eu apenas o acompanhava como assistente. Às vezes se juntava a nós outro caçador, chamado Juca Tigre, que tinha uma porção de cães malhados e usava uma escopeta. O Juca Tigre costumava caçar também patos e marrecos, com sua arma.
Outro lugar onde costumávamos ir eram as proximidades do Tajamar, depois da Charqueada São Paulo, e para além daquelas paragens, até as imediações dos grandes cerros, como o dos Munhoz (foto) e seus arredores.
Com um assobio o meu irmão chamava seus galgos e perdigueiros, que se vinham como flechas. E aí dava andamento à sua caçada de lebres e perdizes. Ao avistarem estes animais, os galgos saíam atrás como se voassem, e os capturavam vivos. Ao pegar uma lebre ou uma perdiz, seguravam-nas com suas patas dianteiras e não as deixavam fugir até que nos aproximássemos, o meu irmão com duas bolsas de estopa, onde as colocava ainda vivas, para mais tarde serem abatidas e preparadas em casa.
Eu me lembro que certa vez chegamos de manhã no campo das ervilhas e não encontramos nenhuma lebre ou perdiz. E então, pra não perder a viagem, o meu irmão resolveu pescar num dos açudes. Conseguiu apanhar um muçum. Uma espécie de peixe parecido com uma enguia, de mais ou menos 40 centímetros de comprimento.
Naquela manhã, perto do meio-dia, levamos o muçum para casa. Nossos pais e irmãs estavam ausentes. E então meu irmão o preparou, cortando-o em rodelas e colocando numa panela com água. Fiquei olhando para aquelas rodelas de muçum se mexerem na panela como se estivessem vivas. Mas depois de cozidas, com o próprio molho, ficaram, como se fosse um ensopado, muito saborosas.
Mas o bom mesmo eram as lebres e perdizes, preparadas de diversas formas, por minha mãe e minhas irmãs.
Nessas andanças pelos campos, coxilhas, matos, cerros, várzeas e açudes, o meu irmão costumava levar uma carrocinha, atrelada a um cão menor, o guarani, que servia para transportar o produto da caça e da pesca.


(Luciano Machado)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O RIO IBIRAPUITÃ

O Rio Ibirapuitã, de que tanto se orgulha e faz alarde o povo alegretense e que tem papel de destaque em seus atrativos e na canção-hino dos irmãos Fagundes (“Tem o Sol como uma brasa que ainda arde / Mergulhado no Rio Ibirapuitã”), é cria destes pagos e nasce de uma pequena vertente d’água aqui no município de Sant’Ana do Livramento, mais precisamente no lugar denominado Coxilha do Aedo. Irmanados, portanto, pelo mesmo chão e pela mesma cultura regionalista, os municípios de Santana do Livramento e Alegrete também são unidos pelo mesmo rio.
A partir daqui, qual um menino esguio, travesso andando de arco, vai correndo e serpenteando por entre os pastos, campos nativos, capões, matos, aramados e propriedades, e abrindo o seu sinuoso canal num solo mais ou menos plano, às vezes rochoso, margeado também às vezes por matas ciliares, terras d’alguém, de todos ou de ninguém, como a chamada “Reserva Ambiental do Ibirapuitã”, com sua flora e fauna silvestres que abrigam desde ratos do banhado, até lontras, avestruzes, cervos, bugios, lobos e mais uma porção de espécies de animais silvestres em extinção, e que vai se alargando até atingir proporções de adolescência e maturidade de um rio que já se preza e onde já é bastante largo e profundo, irrigando por alagamento extensas áreas na estação das chuvas e oferecendo excelentes condições de subsistência às atividades de lavoura, pecuária e agricultura, prestando-se ademais também ao turismo, a acampamentos, lazer, pesca, natação e navegabilidade, caso isto fosse, é claro, em sua área de preservação, permitido pelo órgão fiscalizador. Não se atreva, portanto, quem quer que seja, a caçar, pescar ou capturar animais nativos às margens preservadas do Rio Ibirapuitã.
Com seu curso de águas rasas, estreitas, límpidas e cristalinas no princípio, e até um bom trecho do seu leito pedregoso, que depois vão se encorpando e tornando mais profundas, densas, largas, escuras e até mesmo poluídas por fatores ambientais circunstantes, decorrentes em grande parte da ação ou atividade humana, sem descaracterizar, no entanto, a sua beleza natural, o Rio Ibirapuitã se une, como afluente, com os galhos hidrográficos dos rios Caverá, Santa Maria e Ibicui, que finalmente juntam suas águas às do grande Rio Uruguai.
Certa vez, e isto já faz mais de trinta anos, o nosso amigo Benito Orlando Cademartori, que era um dos procuradores da empresa do seu grupo familiar aqui de Livramento onde eu também trabalhava, sendo piloto do Aero-Clube local, acalentou o propósito de ir sobrevoando e fotografando o Rio Ibirapuitã, desde a sua nascente local, até Alegrete, onde ele atinge largas proporções. Não sei se algum dia o Benito chegou a realizar esse projeto, porque depois foi-se embora para Porto Alegre e deixou de pilotar. Mas seria um importante documentário fotográfico. De qualquer modo, é sempre uma boa idéia fazer este registro alguém que se disponha a isto por conta própria – sobrevoar o rio Ibirapuitã ao longo de seu percurso e fotografá-lo.
Um grande amigo e defensor do Rio Ibirapuitã e de sua reserva biológica (A.P.A) é o ambientalista Ari Quadros, cidadão santanense honorário, natural de Quarai, que foi gerente da agência local do Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Ari Quadros, que é meu amigo e também do professor e ambientalista Juca Sampaio, é um conceituado ecologista, defensor de nossa hidrografia, flora e fauna, e autor de vários trabalhos sobre a questão ambiental.

Luciano Machado