quarta-feira, 14 de agosto de 2013

CRIATURA

Abre teus olhos e contempla, Criatura,
As maravilhas do Criador …

Olha esta árvore com seus ramos
Agitados pelo vento
E esse manto azul que encobre tudo
E aqueles pássaros que descrevem
Em alegres revoadas
Coreográficas figuras.

Olha o verdor destas colinas
E aspira a brisa natural.
Contempla o despencar das águas
Daquela cachoeira
E a tua face no lago que produz
Ao pé da rochosa ribanceira.

Olha essas rochas inanimadas
Que nem por isso
Deixam de ser majestosas e venerandas;
Elas estavam aqui antes de nasceres
E permanecerão aí depois que partires
Como testemunhas silenciosas
Da tua passagem
Por este vale de belezas e de dores …

Contempla, Criatura,
Um pouco de ti mesma no que vês:
Tu és a árvore, o pássaro,
A cascata e o rio;
Tu és a rocha e a colina,
Tu és a brisa …
Pois estas coisas representam
O teu estágio de inocência e pureza.

Contempla a natureza agreste e procura,
Entre os seres que aí estão,
Algum que por si só demonstre estar sofrendo.
Não o encontrarás!

Porque a dor pertence ao homem,
Assim como a miséria e a riqueza,
A guerra e a paz,
A doença e a cura,
A alegria e a tristeza,
O mau e o bem estar …,
Como consequências do seu modo
De pensar e realizar.

E depois de contemplares estas coisas,
Dirige teus olhos para a realidade humana
Com os seus desníveis e contrastes
Verificados num mesmo ser.

Verás o pobre que trabalha,
O mendigo que perambula,
O doente que sofre,
O insensato que blasfema,
O hipócrita que engana,
O criminoso que mata,
As vítimas de um flagelo,
O terror estampado nos semblantes,
A miséria e a fome dos oprimidos,
O triunfo aparente dos tiranos,
Que roubam, mentem, maltratam e dominam,
E desfrutam dos bens ilusórios do poder.

E nisto verás, igualmente,
Um pouco de ti mesma …

Luciano Machado