quarta-feira, 14 de agosto de 2013

CRIATURA

Abre teus olhos e contempla, Criatura,
As maravilhas do Criador …

Olha esta árvore com seus ramos
Agitados pelo vento
E esse manto azul que encobre tudo
E aqueles pássaros que descrevem
Em alegres revoadas
Coreográficas figuras.

Olha o verdor destas colinas
E aspira a brisa natural.
Contempla o despencar das águas
Daquela cachoeira
E a tua face no lago que produz
Ao pé da rochosa ribanceira.

Olha essas rochas inanimadas
Que nem por isso
Deixam de ser majestosas e venerandas;
Elas estavam aqui antes de nasceres
E permanecerão aí depois que partires
Como testemunhas silenciosas
Da tua passagem
Por este vale de belezas e de dores …

Contempla, Criatura,
Um pouco de ti mesma no que vês:
Tu és a árvore, o pássaro,
A cascata e o rio;
Tu és a rocha e a colina,
Tu és a brisa …
Pois estas coisas representam
O teu estágio de inocência e pureza.

Contempla a natureza agreste e procura,
Entre os seres que aí estão,
Algum que por si só demonstre estar sofrendo.
Não o encontrarás!

Porque a dor pertence ao homem,
Assim como a miséria e a riqueza,
A guerra e a paz,
A doença e a cura,
A alegria e a tristeza,
O mau e o bem estar …,
Como consequências do seu modo
De pensar e realizar.

E depois de contemplares estas coisas,
Dirige teus olhos para a realidade humana
Com os seus desníveis e contrastes
Verificados num mesmo ser.

Verás o pobre que trabalha,
O mendigo que perambula,
O doente que sofre,
O insensato que blasfema,
O hipócrita que engana,
O criminoso que mata,
As vítimas de um flagelo,
O terror estampado nos semblantes,
A miséria e a fome dos oprimidos,
O triunfo aparente dos tiranos,
Que roubam, mentem, maltratam e dominam,
E desfrutam dos bens ilusórios do poder.

E nisto verás, igualmente,
Um pouco de ti mesma …

Luciano Machado


domingo, 28 de julho de 2013

CONVERSAS DA MADRUGADA

Muitas vezes eu e o meu amigo professor e ambientalista Juca Sampaio varamos as madrugadas tomando mate e conversando ali na sua casa da Rua Silva Jardim.

A professora Carmem, sua esposa, nos acompanhava até certo ponto; mas depois nos deixava conversando sozinhos e ia dormir.

Nessas conversas viajávamos pela Grécia Antiga, pela História da Humanidade, pela Ciência, pela Física Quântica, pela Matemática, pela Astronomia … juntamente com seus grandes personagens, desde os filósofos pré-socráticos e pré-platônicos, passando pelos grandes cronistas da antiguidade, físicos e matemáticos, até os cientistas e pesquisadores da nossa era, como Einstein, … e Carl Seagan.

Nessas conversas, mui instrutivas, com livros de consulta ao alcance de nossas mãos, só não falávamos sobre política e religião, mas o demais, de tudo era tratado, inclusive de ufologia.

Nessa época eu era funcionário do BB e trabalhava na equipe da tarde, que fazia a escrituração do movimento diário, enquanto o professor Juca também só lecionava na parte da tarde. De modo que nos reuníamos quase diariamente, na sua casa ou na minha, a partir das sete horas da noite, vá conversa, cigarro e mate, até altas horas da madrugada.

Uma noite de verão , aí pelas 23 horas, estávamos sentados no amplo pátio da minha casa, ali na Rua Thomaz Albornoz, quando algo curioso nos chamou a atenção. Um ponto luminoso se deslocava no céu, desde a constelação das 3 Marias. Acompanhamo-lo em seu percurso durante uns 5 minutos, até que chegou a uma estrela e desapareceu. Satélite artificial não podia ser. Avião àquela hora também não. Estrela cadente também não. Meteoro também não. Só restava uma hipótese … Uma nave interestelar.

A partir daí, se havia para nós alguma dúvida sobre discos voadores ou naves extraterrestres, ela deixou de existir.

Luciano Machado.







domingo, 7 de julho de 2013

O MESTRE FRANCISCO WALDOMIRO LORENZ

O MESTRE FRANCISCO WALDOMIRO LORENZ

            Na época em que a Tchecoslováquia estava prestes a anexar a Boêmia húngara ao seu território, um jovem boêmio, agitador político, desafiando o regime do seu país, discursava em cima de uma mesa quando foi alertado por um companheiro de que a polícia havia invadido sua casa, confiscado sua biblioteca, e estava atrás de si para prendê-lo.  Seu nome era Francisco Waldomiro Lorenz.
            Diante disso procurou um casal amigo que sabia estar de viagem marcada para o Brasil. Por sorte ou coincidência, esse casal havia providenciado três passagens, mas o filho do casal não poderia acompanhá-los, pelo que lhe cederam a passagem e Waldomiro ocupou o lugar do rapaz.
            E assim o jovem Francisco chegou ao Brasil, no porto de Rio Grande, lá pelo ano de 1915, onde foi abandonado à sua sorte apenas com a roupa do corpo e uma pequena mala com alguns pertences.   Enquanto pensava no que haveria de fazer para sobreviver num país estranho, começou a trabalhar como estivador no cais do porto e depois embrenhou-se pelo interior do estado do Rio Grande do Sul como um andarilho.  Nessas andanças, nos contou o nosso saudoso amigo e livreiro Sr. Dario Farias, que o conhecera pessoalmente, foi encontrado por um piquete de cavalaria que arregimentava gente para lutar na primeira guerra.  Perguntado quem era e o que andava fazendo, Francisco, que mal sabia falar o idioma português, mas já era um sábio, hipnotizou o comandante e fez um gesto com a mão, como quem diz “vá embora”.  E o capitão deu meia volta em seu cavalo e disse “Vamos embora, pessoal”, e o deixaram em paz.
            Depois de perambular por vários lugares a procura de trabalho, chegou a Dom Feliciano, na época um pequeno povoado que pertencia à comarca de Encruzilhada do Sul, onde negociou uma casa e um terreno para pagar a prazo com produtos futuros de uma lavoura que pretendia cultivar.
            Porém fez mais do que isso.  Além de começar a plantar por conta própria, empregando aí suas poucas economias, criou em seu pequeno sítio um albergue para crianças carentes, às quais educou e ensinou o cultivo da terra, gerando assim uma comunidade infanto-juvenil em torno de uma escola  rural por ele mesmo administrada. 
            Autodidata, estudou a língua portuguesa e a anexou ao seu cabedal de conhecimentos lingüísticos que chegou a alcançar mais de 70 idiomas falados e escritos entre línguas e dialetos.
            Foi um dos primeiros colaboradores do Almanaque do Pensamento e da revista do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, escrevendo à noite, a lápis, em papel de embrulho e à luz de velas, porque durante o dia trabalhava na lavoura e lecionava suas crianças, enquanto sua esposa cozinhava para todos.
Francisco Waldomiro Lorenz publicou inúmeros livros, entre os quais um dicionário da língua Tupi-Guarani e o seu famoso romance O Filho de Zanoni. 
            Por uma dessas coincidências da vida, tive em mãos na cidade de Alegrete, enquanto lá trabalhava como bancário, um diário manuscrito de sua autoria, de caráter autobiográfico, que me foi emprestado por um neto seu e que infelizmente devolvi sem ter podido tirar uma cópia, onde se confirmavam as informações que eu já possuía e que me foram relatadas por diversas pessoas que de algum modo estiveram ligadas a esse grande espiritualista, mestre maçom, rosacruz, doutor em cabala, que desencarnou aos 85 anos, em Porto Alegre, em 1957.

                         Luciano Machado                                                                        

   

A FIGURA DO REACIONÁRIO

A FIGURA DO REACIONÁRIO

Segundo a teoria Marxista, o capital e a burguesia deveriam gerar o proletariado, que se multiplicaria, e depois se voltaria contra os seus senhores, tomando-lhes o poder.
            Através dos tempos tivemos no mundo algumas experiências em que de fato isso aconteceu, antes e depois de Marx.
Um dos primeiros golpes dessa natureza nos conta Maquiavel em seu livro O Príncipe, de como um sujeito de origem humilde (Agátocles, futuro rei de Siracusa), depois de entrar para as milícias, fazer carreira e se tornar comandante, acabou reunindo os maiorais da cidade numa praça pública, matando-os, de surpresa, com o seu exército, e se tornando ele próprio o soberano do lugar.
Dom Pedro I, Miguel Hidalgo y Costilla, Agustín de Iturbide, José Gaspar Rodrigues Francia, José Gervásio Artigas, Juan Antonio Lavalleja, Bernardo  O’Higgins, José Francisco de San Martin e Simon Bolívar, como líderes oriundos de diferentes origens, mas em sua maioria aristocratas, são alguns dos que fizeram a sua parte, libertando ou tentando tornar independentes de seus colonizadores ou intrusos vários países da América, sem que estes, necessariamente, se transformassem em repúblicas socialistas.
Fidel Castro e Che Guevara, um advogado cubano e um médico argentino respectivamente, oriundos da classe média alta, foram os únicos a implantar aqui um regime desta natureza ao invadirem a ilha de Cuba em 1959 e tomarem o poder que estava em mãos do imperialismo e do seu último ditador Fulgêncio Batista.
O grande problema é que alguns destes líderes revolucionários, como o próprio Fidel, para proteger o seu regime, tiveram que se transformar também em ditadores e acabaram, por excesso de zelo, oprimindo de algum modo o povo que libertaram.
Porém, confirmando a teoria de Marx, fatalmente o mundo caminha para uma condição global e talvez anárquica de domínio por parte do proletariado, cuja população universal já é predominante, queiram ou não os defensores do reinado ‘ad aeternum’ do capital em sua forma despótica e opressora.
            E é, em meio a tais circunstâncias, que vamos encontrar, aqui e acolá, a figura do reacionário, o qual, como cronista diletante e preocupado em preservar unicamente o seu ‘lugar ao sol’, resolve de modo contumaz se insurgir contra essa realidade e baixar a lenha sobre seus opositores, atacando-os, sempre que possível, com sua diatribe.
Para o capitalista reacionário, os pobres e os proletários serão eternamente buchas de canhão, lenha de fogueira ou pelo menos deveriam servir de combustível para aquecer as caldeiras do inferno, embora reconheça que sem eles, como peças de trabalho, a máquina do capital não funcionaria.
            Um dos típicos apologistas do capital, além de alguns políticos e economistas, é justamente o reacionário, o qual, arvorando-se como seu legítimo representante e ferrenho defensor, volta-se contra todos os que não se enquadram em sua mesma condição e, em seu discurso burguês, seja qual for, encontra um jeitinho de falar mal dos líderes da classe média e dos proletários e atacá-los de alguma forma, como se fossem, de si e dos seus, inimigos pessoais.

                             Luciano Machado

            

sábado, 29 de junho de 2013

PARIS, 1794


            Estamos na França em fins do século XVIII.  É o chamado “Reinado do Terror”.  Com a tomada da prisão de Bastilha pelo povo, chefiado pelo advogado Camilo Desmoulins, afirma-se a Revolução Francesa.  O rei e a rainha são executados.  Três indivíduos exercem o poder transitório: Marat, Danton e Robespierre; são membros do Comitê de Salvação Pública  que acabam inimigos entre si e inimigos do povo.  O primeiro é assassinado por uma mulher, Carlota Corday; o segundo é executado por ordem do terceiro, e este último, finalmente, conduzido ao cadafalso por onde já haviam passado eminentes figuras da França.

      Entre essas figuras eminentes encontra-se um famoso cientista, realizador de importantes pesquisas e descobertas na área da Química e da Física.  Entre outras realizações, formulara a Lei da Conservação da Matéria, descobrira a composição do ar, as propriedades do hidrogênio, criara a nomenclatura química  e fizera os primeiros testes de calorimetria.  Chamava-se: Antoine Laurent de Lavoisier e nascera em Paris em 1743.

        Naquele dia fatídico, ao tomar conhecimento da sentença que lhe é movida pelo comitê revolucionário, solicita algum tempo para concluir sua última descoberta científica.  Mas a resposta é: “A República não precisa de cientistas!”

      Levam-no.  A multidão rodeia o local.  Durante os breves instantes que lhe restam, encara alguns rostos aflitos e amigos.  Alguém lhe acena.  E estando com as mãos amarradas, responde da única maneira que lhe é permitida,  com um sorriso.  Depois volta o rosto e contempla o terrível, inexorável e mortífero artefato que se ergue diante de si e que, por ironia, deriva do nome de um colega seu, o médico José Ignácio Guillotin, membro da Constituinte francesa e que, num gesto piedoso, solicitara ao Parlamento que o adotasse em substituição a meios mais dolorosos de execução dos condenados à pena capital.  O novo sistema é rápido, prático e infalível.  Possui a vantagem de não discriminar aos que a ele se submetem, sejam nobres, plebeus, ladrões, intelectuais, rei ou rainha.  De fato, sob seu cutelo, já haviam perdido suas cabeças Luis XVI e Maria Antonieta.

           O crime de Lavoisier, assim como o de outras figuras da área científica, é o de ter aceitado uma mesada permanente, paga pelo Estado, para custear seus estudos e experiências.  Não era nenhum corrupto ou parasita, nem a recebia como suborno para defender os interesses de uma minoria privilegiada e opressora, mas como recurso digno destinado a manter o seu trabalho científico, um trabalho honesto e importante, cujos resultados de alguma forma beneficiam hoje a humanidade inteira.

            O carrasco pede-lhe respeitosamente que coloque a cabeça no encaixe de madeira e que feche, se quiser, os olhos.  Com a serenidade de um verdadeiro sábio, Lavoisier ajoelha-se, põe a cabeça no lugar indicado, cerra as pálpebras com firmeza e prende a respiração.  E se é possível pensar durante aquela fração de segundos que lhe antecede a morte física, certamente agradece à Providência pela oportunidade que lhe concedera de realizar alguma coisa em benefício do seu semelhante.  A lâmina cai e lhe decepa a consciência.  É uma das últimas vítimas do terror, em seu país, em 1794.   


          Luciano Machado ´

sexta-feira, 28 de junho de 2013

BLANCA MARIA SILVA GARCIA DE FÍGOLI (BLANQUITA)


Brancas nuvens vão passando
Longe, no azul do céu ...
A poetisa as vai pintando
Na tela azul do seu véu,
Conforme elas vão passando,
Até sumirem,  no céu.

Mais poesias quer assim,
A mirar a imensidão,
Refletidas “en las aguas”
Idas do rio Jaguarão
Até a Lagoa Mirim.

Sozinha está a Blanquita
Imaginando poesias,
Lindas como as Três Marias,
Vistas na tela infinita,
Além das filosofias ...

Galante está um passarinho
A cantar sua canção
Reunindo “penas” de ninho
Com fiapitos de emoção.
Inquieto está o passarinho,
Ali no salso chorão.

Depois, voa o passarinho
E chora o salso chorão.

Feliz, faz uma careta
Igual que uma guria,
Garanto que ela vai ver
Onde está a sua caneta ...
Lá vai ela escrever,
Inspirada, outra poesia.

Acróstico em homenagem à querida amiga Blanquita, ao completar seus 90 anos de idade,
em l5.l2.2004, sempre fazendo poesias.   Luciano Machado.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

VILMA MARTINEZ DE MENEZES


Vinde, ó Musas, com alegria,
Iluminar o caminho dos mortais!
Levai a todos o entretenimento
Magnânimo dos “Portais”
Aqui de Santa Ana do Livramento.

Mestra, poetisa, escritora,
Assim é Vilma Martinez de Menezes
Revelando, no Portal, todos os meses,
Talentos de que é a editora,
Integrando, nessa bela antologia,
Nossos poetas, cronistas, escritores,
Entre os quais, jornalistas, professores,
Zeladores do Templo da Sabedoria.

De seus livros “Trevo do Amor”
E “Carta para o Céu”

Maravilhosos contos, crônicas, poesias
Exercem sobre todos os leitores
Notável fascínio, inclusive nos doutores,
E a tornam muito querida;
Zelosa em tudo o que faz,
Em seus oitenta e quatro anos de vida
Seu é finalmente o Obelisco / da Fronteira da Paz!

Acróstico em homenagem à escritora e poetisa
 Vilma Martinez de Menezes ao receber da
 Câmara de Vereadores o troféu destaque
 Obelisco da Fronteira da Paz


Luciano Machado

quarta-feira, 5 de junho de 2013

NOSSO   IMORTAL  AMIGO  JOÃO   DAVID
Depois de uma trajetória que o transformou  num dos grandes expoentes da fotografia e do jornalismo santanense, deixou-nos  no final da tarde do  dia 20 de maio de 2013, o lendário  repórter fotográfico João David, ou João da Mata Bitencourt,  para reunir-se,  além dos umbrais desta vida, com outros companheiros seus  da velha guarda do periodismo local, entre eles Luis Carlos Vares,  o chargista  Lezcano, o  linotipista Juan Betuel  Pintos (Pintinho), o diagramador  Darci Tavares Santa Maria, o revisor Telmo José Luge Pinto, Riomar Trindade, Osmar Trindade, Nelson Basile, Roberto Arrieta, Galvão Marinho, Alberto Rodrigues e  Arlindo Coitinho;  e naturalmente daqueles que continuam vivos para testemunhar essa trajetória, como Martin Correa,   Elmar Bones, Kenny Braga, Danilo Ucha  e outros, com os quais, em diferentes épocas,   fez parte da equipe do jornal A Platéia, primeiro sob o comando do Jornalista  Toscano Barbosa , e  mais tarde,  durante a administração  da família Grisolia.
Sensível, humanitário e dono de um  generoso coração, João David era um amigo e protetor  das figuras populares de nossa fronteira  e  muito se preocupava com as pessoas carentes, denunciando através da fotografia e da reportagem a situação em que viviam homens, mulheres e crianças sem teto, abandonados  e dormindo ao relento.
Numa época em que não havia  integração entre os jornais do interior, o  jornal A Platéia era um  importante  órgão  regional e independente que circulava por toda a Fronteira Oeste  nas décadas  de 50/60, e  João David percorria de avião outras localidades  como Dom  Pedrito, Rosário, Quaraí  e Uruguaiana,  realizando seu trabalho fotográfico e de reportagem.
Mais tarde, na década de 70, juntamente com o  Arlindo Coitinho e o Alberto Rodrigues, percorria de ônibus e a pé os bairros e vilas de Santana do Livramento, procurando registrar  fotograficamente o drama social  e  as  condições  habitacionais  em que viviam os seus moradores.
Como repórter fotográfico, João David protagonizou arriscados episódios, entre os quais, segundo contava o seu colega e amigo Perrin, o de haver entrado, disfarçado de médico, numa residência, para fazer um registro fotográfico que ilustraria a manchete, em primeira mão, de uma tragédia local.
Considerado um astro da fotografia, em quaisquer circunstâncias era aguardado com grande expectativa  pelo público  junto ao local de um evento social, de um  acidente, de um sinistro ou de uma tragédia, para ser visto em  ação,  no desempenho  de sua atividade, visto que era o único repórter fotográfico  com equipamento especializado para determinados registros.
Meu amigo e do radialista Antonio Carlos Valente, estivemos na casa de seus familiares, sendo recebidos amavelmente por sua esposa, filhos e netos, que nos franquearam uma grande quantidade de fotografias e nos autorizaram a falar, na rádio ou no jornal, a seu respeito.   Ao seu filho, Professor João Anacleto,  à Dona Jacira e demais familiares, os  nossos agradecimentos pela acolhida que nos dispensaram em sua residência.
      João David se foi desta vida,  mas permanece  imortalizado na memória de seus entes queridos e de seus colegas e  amigos pelo legado do seu exemplo como figura humana  e pelo  grande acervo fotográfico que nos deixou,  e que merece ser resgatado,  para ser visto, lembrado e apreciado,  pelas atuais e futuras gerações.     /     Luciano Machado

sexta-feira, 31 de maio de 2013

SOPHIA ...

                Nada melhor às vezes do que fazerem uma pausa e olharem as pessoas no seu próprio “espelho”, refletindo pensamentos, palavras e atitudes.
                Nem tudo que temos em mente deve ser declarado ou comunicado a outrem numa conversa, numa palestra, ou mostrado por escrito numa poesia, crônica ou artigo, e muito menos nas páginas de um livro.  Algo deve permanecer conosco, para meditarmos, como a água que brota de um manancial, se evapora, e volta a cair sobre si mesma, sublimada e purificada.
                Saber refrear esse ímpeto, de tudo divulgar, é uma coisa que aprendemos com o tempo e o amadurecimento.  E há lições que melhor aproveitamos no silêncio da meditação, para a economia do nosso próprio ser, para melhorarmos a nós mesmos e não aos outros.
                Pensar e escrever para si mesmo é uma regra terapêutica, moral e intelectual, que todas as pessoas deveriam observar, e não apenas os que fazem do escrever uma forma impulsiva de se comunicar ou declarar o que pensam sem refletir no efeito ou conseqüência de suas palavras.
                Existem idéias e conceitos cujas sementes devem primeiro germinar, brotar, florescer, frutificar e amadurecer no pé,  para só depois serem os frutos generosamente repartidos, a fim de que não façam mal ou causem alguma indigestão, e não tenhamos que nos sentir culpados ou arrependidos de os ter distribuído antes do tempo.
                Nossos antepassados indígenas, que habitaram este chão, e do qual não se consideravam donos, mas apenas usufrutuários, em sua primitiva porém sábia cultura não permitiam que seus filhos arrancassem frutos verdes; e lhes ensinavam que deviam observar a mudança das cores, que era o sinal da natureza, em sua linguagem muda, para mostrar que então sim podiam ser colhidos e consumidos.
                Este conhecimento não se perdeu; foi apenas atropelado no tempo pela voracidade imediatista que infelizmente também atinge os que pensam, escrevem e formulam com sofreguidão, com receio talvez de perder a primazia diante da competitividade e da ganância que o mundo lhes apresenta.  Mas a Mãe Natureza, todavia, em todos os planos, continua sendo a maior fonte de orientação, de conhecimento e de sabedoria.  Ela é um perpétuo manancial de aprendizado, de cujo seio sabiam beber os antigos, amando-a e respeitando-a, como geratriz da vida e de si mesmos, de sua instrução e aperfeiçoamento.
                Por esse “philos-gyné”: amor à Deusa Mãe e ao Conhecimento que dela obtinham, os gregos a chamavam, carinhosamente, de Sophia.


                                      Luciano Machado

terça-feira, 30 de abril de 2013


Mudam os tempos e as  Instituições ...
Em meu tempo de colégio primário as crianças eram ensinadas em casa e também nas escolas.  Desde o modo de lavar  o rosto, escovar os dentes, segurar os talheres ...  até outras  formas  de educação  e  comportamento  em  sociedade.
Na igreja , na escola dominical  ou mesmo durante as missas, era ensinado às crianças e até a alguns adultos,  o modo correto  de proceder ao entrar num templo e de  como se  comportar lá dentro.
Partia-se do princípio de que ninguém nasce sabendo.
Hoje as coisas acontecem a lo bandido.  Cada um aprende como pode.  Não tem ninguém, nem pai, nem mãe, nem professor, nem padre,  nem um  funcionário encarregado que lhe oriente  ou ensine  coisa nenhuma, o que constrange as pessoas diante daquilo que desconhecem  e acabam deixando de fazer alguma coisa  porque não sabem.
Vamos aos Bancos.  Um dia destes um idoso quase atropelou uma porta giratória porque não sabia  por onde  entrar , e algumas  pessoas ainda ficaram dando risada.  Outro dia  um senhor humildemente vestido   aguardava   segurando um pacote de dinheiro para  abrir uma conta  e  fazer um depósito e não sabia, ninguém lhe orientou,  que tinha de tirar uma senha e passar primeiro  no atendimento.   Em outra oportunidade,  durante  o  serão  de  espera  de atendimento nos guichês de um determinado banco, enquanto as pessoas aguardavam pacientemente com seus números de senha, dois únicos caixas naquele horário  conversavam descontraidamente sobre futebol   entre si e com os clientes que estavam atendendo.    Mas os funcionários  não têm culpa.  A culpa é dos novos tempos e  das próprias instituições  que lhes dão esse tipo de liberdade.  Em minha época  de bancário  os supervisores e o  gerente ficavam  vigiando e controlando no relógio  o tempo de atendimento.  Se  esse  tempo   ultrapassasse determinado limite, de acordo com o horário, o número de caixas  e quantidade de clientes, eles vinham  saber o que estava acontecendo.  Quer dizer, havia um rigoroso controle e  fiscalização internos,  e uma constante  preocupação com o bom atendimento e respeito ao cliente,  por parte dos antigos administradores.
Em meu tempo de quartel,  a ordem, o respeito  e a disciplina eram rigorosamente observados.  Um uniforme sujo, mal passado  ou  mal abotoado.  Uma fivela de cinto sem brilho.  Um coturno sem lustrar.  Uma barba por fazer.  Um modo inconveniente de proceder.   Nada disso era  tolerado.     Hoje vemos  soldados com cabelo crescido.  Barba por fazer.   Fumando diante do seu superior.   Cuspindo no chão.   Escutando rádio em horário de serviço e tendo   várias outras condutas inapropriadas  que em meu tempo eram consideradas transgressões disciplinares. 
Um dia fui visitar um doente que estava internado na UTI de um hospital em reforma e fiquei apavorado com o barulho das máquinas furando as paredes.  Em outros tempos  o silêncio no interior dos hospitais era obrigatório e havia, além de avisos de “SILÊNCIO!” espalhados pelo recinto,  vários  cartazes  com a foto de uma enfermeira pedindo silêncio a  quem não soubesse ler.
Mas como eu dizia, a culpa não é das pessoas e sim  das  instituições.     (Luciano Machado)

segunda-feira, 29 de abril de 2013


A INVEJA E A RODA DA FORTUNA
Um dos sentimentos mais  lamentáveis  é o da inveja.  Além de ser de vários modos prejudicial a quem o alimenta,  também é desfavorável para alcançar qualquer objetivo na vida, pois a inveja, ou o desejo de ser outra pessoa ou de possuir o que não é seu, afugenta a dignidade, a sorte e a possibilidade de alguém ser ele mesmo durante a maior parte do tempo e obter alguma coisa por seus próprios meios ou merecimentos.  E a coisa mais extraordinária e maravilhosa que existe no mundo é o fato de sermos, como indivíduos, únicos e diferentes de todos os demais.
Cada um  é, dentro de suas possibilidades físicas, morais e intelectuais,   responsável pelo que é, tem, pensa, diz ou faz, e algum dia, aqui ou em outro lugar, responderá por isso e receberá  a sua  recompensa.
Já foi dito que a  quem muito é dado, muito será   exigido.   E as pessoas deviam  se sentir  felizes e  satisfeitas com o pouco  que têm, lembrando que  quanto mais alto é o vôo, maior é o tombo, e a queda  poderá ser fatal. 
Vejam o exemplo de humildade, bom senso  e austeridade desse velho guerreiro que é  José Mujica, presidente do Uruguai.  Segundo consta, ele tem de si apenas a  sua chácara, a sua casa, um fusca e uma lambreta, o seu salário de aposentado e o de sua mulher.  Ele optou por não ter filhos para não serem perseguidos por sua causa.  E a não ser a preocupação  com o governo do país que ele administra, o que não é pouco,  vive feliz da vida.
Assim como a inveja, temos que combater em nós mesmos outros sentimentos, como a vaidade, o exibicionismo e a arrogância.  Ninguém se jacte ou se burle dos outros por estar numa situação privilegiada;  as circunstâncias mudam e  aqueles que estão em cima serão  rebaixados e os que estão em baixo serão  erguidos ou  enaltecidos.
Ninguém é dono absoluto de nada neste mundo, nem do seu próprio corpo, que lhe é cedido por empréstimo.  O patrimônio ou a fortuna são bens temporários, perecíveis,  confiados a  alguém para  serem administrados.
Se estes bens forem bem administrados, serão multiplicados.  Se forem mal administrados, serão retirados.
O que chamamos de ‘sorte’ ou ‘azar’  tem um significado relativo,  e só vamos saber se alguma coisa  foi realmente uma sorte ou azar no  fim das contas.   
Muitas   vezes o fato de estar  sem dinheiro nos salva de situações desagradáveis, nos livra de aborrecimentos, nos impede de fazer um mau negócio ou de comprar e consumir coisas  que nos fazem mal  à  saúde.    Isso já aconteceu com muita gente, inclusive comigo e com você.
De modo que não devemos julgar os fatos ou acontecimentos como bons ou maus, mas apenas aceitar e  agradecer, pois tudo na vida  tem suas compensações e,  mesmo se nada for feito, tende a reencontrar o seu ponto de equilíbrio.  Por isso é que se diz que ‘com o andar da carroça as melancias se acomodam’.
Há cinqüenta anos ou mais, aconteceu  uma grande enchente  numa determinada região do nosso país, e as vítimas, que haviam perdido suas casas e seus bens,   se espalharam com suas mochilas por vários estados e  municípios.  Algumas dessas   famílias  vieram parar em  nossa  fronteira  e aqui ficaram  por um longo tempo acantonadas  como moradores de rua, até que o governo da época, creio que foi  o presidente Juscelino,  lhes deu  alojamento provisório em barracas, nos estádios ou quartéis, e em seguida  mandou construir casas de alvenaria padronizadas com todo o saneamento e  a infra-estrutura. 
Um dia, lá pela década de 80,   conheci  um cidadão que viajava de Porto Alegre  para Livramento no mesmo ônibus da Ouro e Prata  e durante a viagem  me contou a sua história.  Ele era  membro de uma  daquelas famílias  que tinham  perdido tudo e  recebido uma casa do governo.  Esse cidadão, agora com cinqüenta e poucos anos, era  um próspero  fazendeiro no Paraná  e vinha visitar seus familiares  que ainda residiam  por aqui.  Seu pai, com mais de oitenta anos, estava com saúde,  aposentado do serviço público, e toda a sua família desfrutava agora  de uma situação econômica privilegiada e  bastante confortável.
Muitas vítimas ou remanescentes de guerras, massacres, catástrofes e calamidades, em várias épocas e regiões do planeta,  da mesma forma,  recomeçaram  suas vidas e readquiriram  a alegria  e a  felicidade de viver.
Por outro lado, famílias inteiras, em questão de minutos, têm perdido  suas vidas em acidentes terrestres, aéreos , naufrágios ou maremotos.
A  imensa e invisível  roda da fortuna está sempre girando.  E todos nos situamos em algum ponto de sua circunferência.  Portanto  não devemos  alimentar sentimentos indignos ou adversos, como  de derrota,  desespero, frustração,  vaidade, arrogância, superioridade, inferioridade,   competitividade,  usurpação, odiosidade, rancor,  orgulho, inveja  e cobiça.  Cada um faça  a sua parte, do modo mais correto  e  honestamente possível, e o que lhe  está reservado  virá a seu tempo.
Luciano Machado

quinta-feira, 4 de abril de 2013


MINHAS SETE MARAVILHAS DO MUNDO

Depois das sete maravilhas do mundo antigo
Dizem que o mundo ainda tem coisas muito lindas
Para se conhecer, contemplar, curtir e admirar.
Mas, a mim,  apenas  estas  coisas me fascinam:
A música
A  leitura
A beleza da mulher
O  amanhecer
O Mar
Uma praia deserta
A  imensidão do céu noturno.

Luciano Machado


domingo, 31 de março de 2013


DOMINGO DE PÁSCOA

A páscoa é  comemorada  por judeus, cristãos, religiosos e pagãos. Do ponto de vista judeu é a passagem do estado de escravidão para o de liberdade.   Do ponto de vista cristão  é o dia em que se comemora a ressurreição de Jesus.   Do ponto de vista pagão:  a festa da passagem do Inverno para a Primavera.  E assim por diante.  Para os muçulmanos  a Páscoa não existe, pois entendem que Jesus foi salvo por Deus e  não morreu ao ser crucificado,  e portanto  não tem sentido comemorar a sua ressurreição.
Apesar da divergência  de significados e opiniões, o espírito do bem parece  reinar durante a páscoa, dando-nos uma sensação de renascimento e nos transmitindo um sentimento  de paz e   harmonia, como se as pessoas  tivessem realmente  atravessado, com Cristo,  uma ponte,  de sexta feira para domingo.
Entretanto, por outro lado,  parece que  todos  os inimigos da religiosidade, principalmente  aqueles que têm gênio violento,  aproveitam o dia da páscoa para discutir, tumultuar, insultar  e agredir.
E o lamentável é que esse espírito  muitas vezes encarna  justamente naqueles  que têm a   missão sacramental  ou a incumbência  sacerdotal   de  bendizer,  esclarecer ou  transmitir a  mensagem pascal, fazendo parecer que está lidando com um bando de pecadores remissos, criminosos  ou   malfeitores.
Quando eu freqüentava as missas de domingo na Igreja Matriz,  lembro que os sermões  mais violentos e irascíveis  eram feitos justamente no domingo de páscoa, como se os oradores escolhessem este dia especialmente  para atacar a consciência daqueles, fiéis ou não,  que considerassem estar pecando ou agindo em desacordo  com a idéia da ressurreição.
Parecia que o sacerdote escolhia justamente o dia   da festa da ressurreição  para chicotear a consciência de seus paroquianos, justificando,  talvez, a sua atitude,  com o fato de  Jesus, durante a comemoração da páscoa judaica,  haver chicoteado  os mercadores do templo. 
Dizia o sacerdote que haviam transformado a festa de páscoa num dia comercial, obrigando as pessoas a se presentearem,  como se com isto se redimissem dos seus pecados  ou pensassem estar  quitando suas  dívidas e  obrigações.
Então muitas pessoas saíam com a consciência pesada, almoçavam mal,  e passavam o resto do dia pensando  nas palavras e na  figura irada do sacerdote que provavelmente em seguida esquecia o que tinha dito,  ia  almoçar e tomar o seu vinho tranqüilo.
Alguns párocos ou pastores  ainda hoje  costumam manifestar,  no dia da Páscoa,   uma espécie de ressurreição  das  mesmas  atitudes   daquele   homem de Deus,  diante do seu rebanho.
 Feliz Páscoa!
Luciano Machado



segunda-feira, 25 de março de 2013


A DROGA VENENOSA E RADIOATIVA

Tudo começou  no século dezesseis, quando Jean Nicot, um diplomata europeu,  presenteou a rainha Catarina de Médici , que sofria de dores de cabeça, com algumas sementes de uma planta americana, dizendo que a aspiração da essência da  referida  planta iria  curar a sua enxaqueca.
A rainha nunca se curou.  Mas  ficou viciada em aspirar a essência  daquela planta, originária da América,   mais tarde batizada  por um botânico francês  com o nome de  Nicotiana, de onde provém, entre outros alcalóides,  a  NICOTINA, uma das substâncias mais nocivas que existe, não apenas pelos danos que causa ao organismo carregada através da corrente sanguínea às células e aos órgãos e pelas  vias respiratórias  ao pulmão, como também pelo cheiro insuportável de nicotina e alcatrão  que exalam os fumantes pela boca, pelo nariz, pelo suor, e que também lhes fica impregnado na roupa, na pele e nos cabelos, pois aqueles que fumam, mesmo depois de tomarem  o seu  banho diário e lavarem  a cabeça, continuam exalando aquele cheiro nauseabundo pelos poros, pelo nariz e pela boca.
Depois de ter sido introduzido na França, o vício de aspirar  o  tabaco, inicialmente em forma de rapé, apenas inalando o pó da planta, com o tempo se espalhou pela Europa e pelo resto do mundo no hábito de fumar ou aspirar a fumaça, sendo o fumo  hoje  usado em larga  escala    para abastecer o fornilho dos cachimbos, fabricar  charutos e servir de recheio para  cigarros e cigarrilhas. 
A planta (nicotiana)  e seu principal alcalóide  (nicotina) derivam do nome daquele diplomata francês, que se chamava Jean Nicot, nascido em 1530 e morto em 1600, considerado o introdutor e o principal  responsável pela disseminação  do vício do tabaco na Europa e dali para resto do  mundo.
Quando eu trabalhava  como bancário numa pequena agência do BB às margens do Taquari, nossa agência   atendia cerca de trezentos  produtores de tabaco daquela região, e nenhum deles fumava, nem seus familiares ou parentes, porque conheciam  o venenoso e mortal  efeito da planta que cultivavam, não apenas pela  inalação  de seus alcalóides durante a colheita e o preparo do fumo, como também por ser considerada, mesmo ainda  no pé,  uma planta extremamente tóxica, da qual até os insetos e as pragas da lavoura  se afastavam sem pousar em suas folhas.
Além do alcatrão, da nicotina e de  outros alcalóides do tabaco, hoje se sabe que na fumaça do cigarro as pessoas inalam, misturado ao fumo  com iodo, arsênico e naftalina,  um elemento radioativo dos mais venenosos, o terrível  Polônio 210, cujos efeitos letais  para o organismo são devastadores.
Luciano Machado

quinta-feira, 21 de março de 2013


O RITMO DA CHUVA
Olhando através das vidraças desta janela para a chuva que cai lá fora, recordo os tempos da minha juventude, quando nos clubes de Santana e Rivera, há meio século,  eu dançava com a minha namorada ou com alguma desconhecida e me deixava levar pelo ritmo da  canção “Ritmo da chuva” .
Há uma brutal  diferença entre as  letras musicais daquela época, verdadeiras obras primas de arte, bom gosto,  criatividade vocal,  vocabular e instrumental,  cheias de sensibilidade, emoção, pureza, ternura,  beleza e romantismo.    E  as de hoje, com raríssimas exceções,  tão pobres, agressivas, ofensivas,  de  mau gosto e de  péssima qualidade, que no entanto fazem sucesso, aqui e no exterior, perante um público ignorante, uma mídia sensacionalista e uma crítica duvidosa.  
Não se trata de pregar falsa moral ou ser hipócrita perante a nossa lamentável atual realidade, com a sua generalizada  pobreza de valores  e sua péssima  cultura artística e musical.  Mas unicamente fazer uma triste constatação – a de que o mundo simplesmente regrediu e com o passar do tempo foi perdendo seus artistas, músicos e compositores, os quais, por suas qualidades,  se tornaram insubstituíveis.
Suas obras, entretanto, não se perderam.  Elas permanecem à nossa disposição no interior de velhos discos de vinil ou regravadas em CD.
Escutá-las de vez em quando, não somente faz bem ao espírito, como terapia musical, mas também nos faz prestar atenção no conteúdo de certas mensagens na poesia de canções que haviam ficado para trás e que agora relembramos.
Por isso, às vezes,   temos que apagar nossos rádios e televisores e nos isolarmos um pouco do mundo contemporâneo, ligando o  nosso aparelho de som e colocando um disco, para escutar e  recordar  antigos sucessos musicais, entre os quais o  ”Ritmo da Chuva”.
Luciano Machado


AMIGOS PARA SEMPRE
Amigos não são apenas aqueles com quem convivemos diariamente.
Também são aqueles que  foram  nossos companheiros e companheiras  de infância, colegas de colégio ou  de trabalho e que, por circunstâncias da vida,  há um longo tempo não nos  vemos.
Mas se os reencontramos, a satisfação e a alegria de trinta, quarenta, cinqüenta anos  é a mesma. 
Isso é amizade.  Aquele estado de simpatia que permanece com aqueles, próximos ou distantes, que pensam uns nos outros com saudade,  ternura e bondade.
Entre estas pessoas a amizade não se apaga e dura para sempre.
Portanto,  quando alguém diz ou pensa que não tem amigos, recomendo pegar uma folha de papel em branco  e  fazer uma relação, recordando e anotando desde a infância, este, aquele ou aquela com quem convivemos e quais as possibilidades de mantermos algum contato, mesmo pela internet, através de suas redes sociais.
De posse dessa lista, com os nomes e e-mails de nossos amigos e amigas ,   poderemos recordar ou  pensar neles, ou,  a qualquer momento, nos comunicarmos com eles.  Só devemos cuidar para não nos tornarmos grudentos,  impertinentes, e não transformarmos nossa amizade, tão bem preservada pela distância, numa chateação.
Foi assim, através da internet, que tive  a alegria e a felicidade  de reencontrar e saber notícias de alguns amigos, como, por exemplo,  de uma amiga de infância que hoje vive na Itália desde a década de 70, e de outros amigos,  e a satisfação de saber que todos  estão bem, tocando suas vidas nos lugares  onde moram, e também ficaram felizes  em  saber notícias minhas.
Saber que em algum lugar da cidade, do estado, do país, do continente, do planeta ou do além existe uma pessoa que pensa em nós com alguma ternura, assim como nós pensamos nela,  isso é amizade.
Isto    faz com que reavaliemos a situação e  as circunstâncias e  não nos sintamos tão  sozinhos ou sem amigos, mesmo  em relação àqueles entes queridos, parentes,  amigos e amigas  que já se foram deste mundo,  pois também com a alma destes, ou de outros, de que fomos amigos em vidas passadas, nos reencontramos e nos comunicamos através dos  sonhos.
Luciano Machado