segunda-feira, 30 de junho de 2014



SEJA O MELHOR ...


Se você não consegue compreender
Porque não pode ser aquilo que você não é,
Seja então o melhor que puder ser
Naquilo que você é.

Se você não é um carvalho,
Seja essa linda arvorezinha;
Se não é o rei nem a rainha,
Seja outra carta do baralho.

Seja, enfim, o melhor cozinheiro,
O melhor lavador de pratos,
O melhor tocador de pandeiro,
O melhor engraxate de sapatos.


Luciano Machado

BONS E MAUS LEITORES/ESCRITORES 



Há muito tempo fiquei sabendo, com o meu saudoso amigo e mestre, poeta e jornalista Joaquim de Abreu  Fialho, que aprendemos a escrever lendo textos bem escritos e de bons autores.

Joaquim de Abreu Fialho recebia semanalmente, da Editora Saraiva, um pacote de livros pelo Correio.  Ele os abria, retirava os volumes, os cheirava, examinava o material e o visual exterior das capas, as orelhas, a textura do papel, a ficha catalográfica, os caracteres tipográficos (letras) se eram agradáveis ou não à leitura, e depois abria o livro numa página qualquer, em início de capítulo, e começava a sua degustação.  Se era um autor desconhecido, então lia o primeiro parágrafo do primeiro capítulo.  Lia o segundo.  Lia o terceiro.  Até encontrar um sentido, um nexo ou  coerência nas palavras do autor.

Então ele dizia.  “Se tu quiseres saber se um livro ou autor é bom ou mau, lê um capítulo qualquer; se te agradar, lê o livro inteiro.  Se não te agradar o capítulo, põe o livro de lado.”

Mas quais são os critérios  para identificar se um texto é bom ou mau.

Se durante a leitura começamos a encontrar erros de grafia ou de sintaxe, ou se tivermos que reler uma frase ou pensamento para entender o seu significado, é sinal de que o texto não é recomendável, nem o autor.

Os autores, bons ou maus, ao firmarem seu estilo, independentemente da correção gramatical que é obrigatória, colocam nele todas as suas manias,   vícios de linguagem e modismos literários.

Se o autor ou autora forem bons, estas manias, vícios e modismos fazem escola e contribuem para o melhoramento das Letras.

E assim temos as obras que se tornaram clássicas de Luís de Camões, Cervantes, Shakespeare, Alexandre Dumas, Honoré de Balzac, as irmãs Brontë, W. S. Maugham, Machado de Assis, José de Alencar, Ernest Hemingway, Horácio Quiroga, Gabriela Mistral, Gabriel Garcia Marquez, Cecília Meireles, Jorge Luis Borges, Raquel de Queirós e tantos outros autores e autoras admiráveis.

Mas se forem ruins, na forma, no estilo e no conteúdo, acabam criando uma legião de seguidores que serão também maus leitores e maus escritores, incapazes de discernir se uma obra é ou não aproveitável, e se um texto é de boa ou de má qualidade.

Luciano Machado







sábado, 28 de junho de 2014

FALANDO DE FUTEBOL


            Não é pelo fato de hoje  não me chamar mais a atenção que digo que o futebol como espetáculo é um dos fatores de massificação e de alienação das pessoas, desviando suas atenções de questões mais sérias, como, por exemplo, estar atento ao que acontece nos bastidores da política de sua cidade e do seu país.

           Embora conheça pessoas que apesar de apreciarem o futebol não dão prioridade a ele e não descuidam de outras questões de importância em sua vida profissional,  econômica, política e social, acho que o futebol tem o poder de estragar o dia e influenciar no comportamento dos indivíduos, e aqui me refiro também aos jogadores que diante do prestígio e do poder se deixam afetar em sua personalidade.

     Em função do futebol, sérios desentendimentos pessoais, discussões e crimes têm acontecido a partir de simples brincadeiras, como piadas, flautas e ironias.  E acredito que muita gente queira a cabeça de alguns aficionados e comentaristas de futebol pela natureza debochada e deselegante de alguns comentários seus em relação a indivíduos, povos e países.

         O futebol traz consigo rancores e vícios, como o alcoolismo, não dos jogadores, mas por parte dos torcedores que adoram comemorar com uma bebedeira as vitórias do seu time.  E daí para uma tragédia é um passo.  Quantas brigas entre torcidas e invasões de campo têm acontecido com trágicas conseqüências  ... 

       Quando se diz que o esporte é sadio, fala-se na sua prática saudável, seja ele físico ou intelectual, como o próprio  futebol, o tênis, o xadrez, etc.

      O mal não está na prática esportiva do futebol, mas em se deixar fanatizar por ele, a ponto de encher a cara e ficar de mau humor, cortar amizades, insultar as pessoas ou até partir para a agressão física ou o homicídio em alguns casos.

   Acho saudáveis, por exemplo, as peladas, com ou sem trocadilhos, desde a infância, quando jogávamos na areia de pés descalços com bolas de pano, ou mesmo hoje as peladas de fim de semana, como exercício físico, lazer e entretenimento.

         Mas deixar-se alguém influenciar a ponto de vir a se interessar pela vida pessoal dos jogadores, saber quanto ganham, ficar aflito (a) ou triste porque soube que um deles teve um problema no joelho ou uma unha encravada, não dormir em função da derrota do seu time, encher a cara, passar o dia de mau humor, adoecer, cometer atos inadmissíveis em sua vida pessoal ou profissional e agredir os outros verbal ou fisicamente, isso já não é apenas fanatismo, é doença psíquica e emocional.
           
Luciano Machado

            

quinta-feira, 26 de junho de 2014

PÉROLAS DE UM MESMO COLAR ...


Uma das características que unem os povos é o fato de existirem fronteiras irmanadas, em que duas cidades de origens e culturas diferentes se situam lado a lado, separadas por uma avenida, como Livramento e Rivera, ou  ligadas por uma ponte que atravessa um rio, como Quarai e Artigas, e que convivem num clima de paz e cordialidade.

Ainda que cultuem separadamente suas tradições, valores e vultos históricos, como é o caso do patrono da cidade de Artigas, General José Gervásio Artigas, o qual todos aqueles que estão familiarizados com a história de ambos os países reconhecem como um valoroso herói e caudilho que lutou até enquanto lhe foi possível  pela libertação de sua querida pátria oriental deixando-nos este lema: “Com libertad, no ofendo ni temo”; ainda que no passado tenham havido combates entre os colonizadores portugueses e espanhóis e discórdias posteriores, hoje o Brasil e o Uruguai integram a comunidade das nações livres e independentes que convivem num clima de paz, cordialidade, harmonia e respeito e transmitem esse exemplo a todos os forasteiros e turistas que passam por aqui. 

Com referência a esta nossa fronteira do Brasil com o Uruguai, sinto-me à vontade  para falar dos vínculos que nos unem, brasileiros e uruguaios, porque em minhas veias também corre o sangue castelhano.  Minha mãe era natural de Salto e meu bisavô materno possuía um estabelecimento rural em Estación de Achar, no departamento de Tacuarembó, onde foi atacado e morto por uma onça parda, episódio que narro em meu livro “O Velho e a Fera”.

E agora, em plena Copa do Mundo, mais uma vez constato essa bela integração entre nossos povos, onde famílias uruguaias e brasileiras mantém vínculos comuns, senão de parentesco, pelo menos de afeto e amizade, de esportividade e intercâmbio cultural (neste governo da presidenta Dilma foi criado em nossa fronteira um Instituto Binacional de Ciência e Tecnologia, proporcionando ensino gratuito, a nível de vestibular, nas áreas de ciência e tecnologia a jovens brasileiros e uruguaios), e isto merece registro, pois é uma constatação daquela sentença: “Los hermanos sean unidos / Esta es la ley primera / Tengan unión verdadera / Em cualquier tiempo que sea / Pues se entre ellos pelean / Los devoran los de afuera”, que nos deixou como mensagem  o poeta e caudilho argentino José Hernández , evidenciando que nossas cidades irmãs, na fronteira do Uruguai com o Brasil,  são pérolas de um mesmo colar, cujo fio espiritual une todos os países da América Latina.



Luciano Machado

quarta-feira, 25 de junho de 2014

SINUHE, O EGÍPCIO …

Uma bela maneira de aprendermos a gostar do estudo de certas disciplinas, como a história por exemplo, é a leitura de autores que não abordam os fatos com rigorismo científico, mas antes lhes dão um sabor de romance ou aventura.  Entre eles estão Alan Poe, H.G.Wells, Júlio Verne, Mika Waltari e o nosso Malba Tahan

Infelizmente, nos dias de hoje, os nossos jovens não se interessam  por esses autores, nem os conhecem, mas foram eles que conduziram nossos pais e avós a enveredarem pelo caminho do conhecimento.

Quando eu tinha uns dezoito ou dezenove anos, emprestaram-me o romance O Egípcio, de Mika Waltari.

Nesse livro o autor narra a vida e as aventuras de Sinuhe, filho adotivo de um médico, o qual, tendo herdado de seu pai a vocação pela medicina, não soube se manter dentro dos padrões de comportamento e disciplina e tornou-se um aventureiro.

Como filho de um médico, Sinuhe quis seguir a mesma atividade  do pai.  E assim foi iniciado na escola onde se ministravam os ensinamentos e mistérios da ciência sacerdotal. 

O local onde esses conhecimentos eram ensinados, no palácio real, se chamava “Casa da Vida”, uma espécie de universidade onde se aprendiam, entre outras, a ciência e a arte da medicina.  A Casa da Vida se situava num pavimento superior do palácio real, enquanto a Casa da Morte, onde se embalsamavam os cadáveres, funcionava nos subterrâneos.

Embora tenha se tornado um sacerdote médico, depois da morte de seu pai Sinuhe deixou-se atrair amorosamente pela babilônica sacerdotisa de Set (o deus gato dos egípcios) cujos aposentos na corte passou a freqüentar.

Esta mulher perversa, que representava o vício da luxúria e da dissipação, largou Sinuhe literalmente ‘de tanga’, depois de lhe tirar o dinheiro e adonar-se de seus bens.

Arruinado, depois de um estágio de castigo entre os necrófilos da Casa da Morte, por seu desregramento moral e por não aceitar o culto a um deus representado por um animal, Sinuhe saiu a peregrinar pelo deserto.

Mas em sua peregrinação, ao passar pelo Vale dos Reis, onde ficam as pirâmides, foi assaltado e capturado por ladrões.

Porém, como nada possuía para ser roubado, foi acolhido pelos ladrões e convidado a participar do seu sindicato, pois os ladrões naquele tempo já eram organizados.

Recusando o convite para ficar, Sinueh foi liberado pelos ladrões, que ainda lhe deram duas moedas de ouro.  Com uma dessas moedas Sinueh, pelo caminho, comprou e libertou um escravo e deu-lhe a outra moeda de presente.  E sozinho continuou a sua peregrinação.

Depois de vaguear pela vastidão do deserto, quase morto de fome, de sede e de cansaço, deparou-se com uma grande muralha que se erguia e estendia à sua frente e que surgira de repente, numa espécie de oásis, em pleno deserto.

Sinuhe golpeou num dos portões e um guarda veio dizer-lhe que ali não podia entrar nenhum forasteiro, mesmo porque a filha do rei estava muito enferma.  Sinuhe então lhe disse que era médico e o rei mandou franquear-lhe  o ingresso.

Ao entrar, Sinueh deparou-se com algo tão espantoso que, a princípio, quase não acreditou.  Diante de seus olhos apresentava-se um mundo fabuloso, com belíssimas paisagens.  Era um oásis, por uma admirável obra de engenharia circunscrito no deserto, com sua natureza, lagos, flora, fauna, palácios e magníficos jardins.

Ali, depois de ser recebido pelo rei e sua corte, e de curar a jovem princesa, Sinuhe passou a viver.

Durante um banquete que se seguiu em sua homenagem, o rei ofereceu-lhe a mão de sua filha; mas nesse instante,  ao contemplar uma roda de moinho que alguns escravos amarrados a ela faziam girar, perguntou ao rei porque mantinha aqueles escravos amarrados, numa atitude tão cruel que contrastava com a beleza do lugar.

O rei, para convencê-lo de que era um soberano justo e misericordioso, disse que aqueles escravos ali estavam amarrados desde crianças, e que não conheciam a beleza do lugar porque, para evitar que se angustiassem, lhes tinha mandado furar os olhos ...

Desiludido e revoltado com tamanha crueldade, Sinuhe despediu-se e continuou a peregrinar.  E conheceu outros lugares, suas culturas e seus costumes.

Num anacronismo propositado, Mika Waltari coloca Sinueh em contato com povos de outros tempos; faz com que visite a Grécia,  a ilha de Creta e observe os hábitos sociais do Palácio do Rei Minos, e que conviva com os hititas, assírios e caldeus, aprendendo-lhes as artes e as ciências.

Passados muitos anos, Sinuhe retorna, materialmente pobre, porém rico em conhecimentos e experiência de vida.

Ao chegar, encontra no lugar de sua antiga casa paterna um suntuoso palácio, cujo proprietário era ninguém menos do que o escravo que havia libertado e que, durante a sua ausência, habilmente investira aquela moeda de ouro na compra e estocagem de cevada que, previamente soubera, iria escassear, devido a uma longa estiagem, em conseqüência do  refluxo das vazantes do rio Nilo ...

Ao parabenizar o escravo por seu espírito empreendedor, este lhe diz:

-- Obrigado, meu amo.  Mas isto lhe pertence.  Toda esta riqueza e patrimônio eu construí para o senhor.

Sinueh aceitou aqueles bens, mas voltando a freqüentar a casa da sacerdotisa, tornou a arruinar-se até o último centavo ...

E mais duas vezes tornou a peregrinar, recompondo-lhe o escravo novamente a fortuna e sendo esta impiedosamente dilapidada por Sinuhe ...

Derradeiramente empobrecido, Sinueh é convidado pelo faraó Amenófis IV, que fora seu amigo de infância e agora instituíra no Egito o culto monoteísta, para ser o médico real e seu médico particular.

No exercício de suas funções como médico do palácio real, Sinuhe vem a curar de lepra uma mulher do povo,  e em cujo semblante envelhecido reconhece aquela que por três vezes o arruinara, a sacerdotiza de Seth. 

Esta é mais ou menos em resumo a história de Sinuhe, o Egípcio, que li há mais de 40 anos,  cuja leitura ainda hoje recomendo, pois, apesar de ser uma ficção, ela foi escrita em cima de fatos da história e há nela todo um manancial de informações e aprendizado sobre a cultura e a ciência dos povos antigos.

Luciano Machado




domingo, 22 de junho de 2014

O MAGO ALEYSTER CROWLEY


            Três nomes de origens distintas são hoje, para o bem ou para o mal, as figuras mais controvertidas na área do ocultismo: Saint Germain, Alexandre Cagliostro e Aleyster Crowley.

            Os três aparecem sob pseudônimos como personagens do meu livro O Elixir dos Magos.         

            Sobre os dois primeiros já falei em crônicas anteriores.

            Resta dizer algo sobre o terceiro: Aleyster Crowley, ou Edward Alexander Crowley, nascido na Inglaterra em 1875 e falecido em 1947.

            Aleyster deu muito que falar durante a sua vida e mesmo depois de sua morte.

            De origem abastada, filho de um rico fabricante de cerveja, quando seu pai morreu, foi adotado por um tio com menos posses do que o seu pai.

            Mas Aleyster forjou a sua própria educação concorrendo com os filhos da aristocracia a um lugar no seio de uma das melhores escolas inglesas, o Trinity College, universidade de Dublin, onde, na época, era comum anotarem nos fichários ao lado do nome de cada aluno não pertencente à nobreza em vigor  a expressão latina: “No est  nobilitate”.

            Da abreviatura dessa expressão se originou a palavra SNOB ou ESNOBE, tão comum em nossos dias para designar o exibicionismo de quem tenta aparentar o que não é, o  adulão, o puxa-saco, ou seja, aquele indivíduo de condição inferior que se ufana ou se vangloria de ser parente, amigo ou conhecido de alguma celebridade ou tenta se aproveitar, para tirar vantagem, do nome de alguém que esteja em evidência por seu status econômico e social.
           
            Mas não era este o caso de Aleyster Crowley.  E foi graças à sua inteligência, ao seu talento e esforço pessoal nos estudos, em que sempre se destacou, e não ao dinheiro de seu pai ou de seu tio, que sozinho abriu caminho para se tornar rico e famoso, e um dos nomes mais respeitados do seu tempo no campo metafísico e intelectual.

            Ainda jovem, resolveu dedicar-se ao esporte do alpinismo, à magia e ao ocultismo e a viajar pelo mundo, divulgando seus ensinamentos e se transformando num mestre internacionalmente conhecido e num guru para muita gente, ou num “bruxo” para seus adversários ou inimigos.

            Nesta condição, e também como Grão Mestre da Ordem Templária do Oriente, conviveu com outras grandes figuras do seu tempo que também se dedicavam às ciências ocultas entre os quais o filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (pai da Antroposofia e criador do sistema de pedagogia Waldorf); Krumm Heller, médico e fundador da Fraternitas Rosacruciana Antiqua; o fiósofo e alquimista Harvey Spencer Lewis, fundador e primeiro imperator da AMORC, Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz; o médico, escritor e teosofista rosacruz alemão Franz Hartmann; Gerald Gardner, fundador da ordem neopagã Wicca, e o poeta português Fernando Pessoa, de quem era amigo pessoal e “irmão” na ordem “Golden Daun” (Aurora Dourada). 

            Um episódio curioso aconteceu após uma visita de Aleyster Crowley ao poeta Fernando Pessoa, em 1929. Após este encontro, Aleyster Crowley desapareceu misteriosamente (dizem as más línguas que para se livrar das amantes e dos credores ...) e por muito tempo ninguém soube do seu paradeiro. Deram-no por morto e o próprio Fernando Pessoa testemunhou esse fato.

            Mas reapareceu após a morte de Fernando Pessoa, declarando que estivera no Tibet, estudando em mosteiros e escalando  alguns dos montes do Himalaia, atividade a que já se houvera dedicado quando mais jovem, entre 1900 e 1905.

            Crowley teve muitos admiradores e discípulos de sua doutrina, entre os quais, para citar dois brasileiros conhecidos, o músico e compositor Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho.


            Luciano Machado        

           

            

sábado, 21 de junho de 2014

UM CASAL DE AMIGOS - FLORA E RAMÃO MENDINA


            Quem tem, ainda que seja como empregado, o privilégio de viver no campo, sabe como é saudável deitar cedo e acordar antes do amanhecer, fazendo um fogo de chão e colocando sobre a trempe uma chaleira, enquanto prepara o chimarrão e ouve lá fora os primeiros cantares da passarada.  Tais pessoas são testemunhas do que é a beleza, a magia e o esplendor dos nossos pagos ao alvorecer.

            Pois eu tive esse prazer que me faz orgulhoso de nossa região campesina de fronteira e me sinto grato por essa oportunidade.  É preciso que aqueles que vivem na cidade, encerrados em suas casas ou apartamentos, experimentem passar pelo menos um fim de semana em uma fazenda no interior do município, principalmente agora que temos hotéis-fazenda a poucos quilômetros da cidade. 

            Mas eu na verdade queria falar de um casal muito querido e simpático que constitui um exemplo de todo o amor, amizade e companheirismo que pode existir entre um homem e uma mulher que vivem juntos há mais de 60 anos e que trabalhavam não faz muito tempo na campanha, em seu estabelecimento pecuário, lado a lado com seus empregados, e assim, nesse ambiente saudável, criaram e educaram seus filhos.

Eu afirmo isso porque sei o que eram essas pessoas para o trabalho de banhar o seu próprio gado e realizar tantas outras tarefas campeiras ao lado de seu capataz e de seus empregados rurais.  Eu era funcionário, na cidade, da empresa de que eles eram sócios, e certa vez recebi a incumbência de substituir um colega e  ir lá fora pagar os empregados.

 Era uma manhã de inverno, no mês de agosto, quando eu e o Eduardo Lopes, que era o motorista, chegamos à fazenda e encontramos esse casal lidando com o gado dentro de uma mangueira.  Ao nos verem chegar, vieram ao nosso encontro como se fôssemos visitas importantes, e já foram dizendo, muito alegres: “Hoje vocês vão almoçar conosco!”
           
            Eu e o Eduardo tínhamos que retornar à cidade antes do meio dia, mas eles não nos deixaram, apesar de eu dizer que não queríamos atrapalhar o serviço da fazenda.

            -- Vocês não atrapalham coisa nenhuma.  Vão ficar para almoçar.

            Diante da amável insistência desse casal, o que, aliás, também era uma ordem, não tivemos outro jeito senão ficar.  E ela foi pessoalmente preparar uma gostosa feijoada com lingüiça e toucinho de porco.

            Depois do almoço, delicioso, e após o pagamento dos empregados, nos acompanharam num passeio pelos arredores da casa da fazenda, mostrando-me (pois o Eduardo já conhecia) todas as dependências. 
E aquela missão de que fôramos incumbidos se transformou num passeio campestre maravilhoso, ao lado de nossos patrões, amigos e anfitriões Ramão Flores Mendina e Flora Cademartori Mendina.

Hoje, por motivos de saúde, não saem mais de sua residência na cidade.  A eles, desde aqui, eu mando o meu abraço e meus votos de que Deus lhes dê saúde, proteja e abençõe.


Luciano Machado


DOM SYLVIO CADEMARTORI


Hoje quero me referir a uma pessoa muito especial, cujo espírito continua conosco, observando, guiando e orientando aqueles com quem conviveu durante sua última passagem por este mundo.


Trata-se do meu ex-chefe e amigo Sylvio Pouey Cademartori, com quem trabalhei e convivi durante quinze anos, até a véspera de ingressar no Banco do Brasil.


Comecei a trabalhar em sua empresa como recepcionista e auxiliar de escritório, e depois de exercer vários cargos e funções, tive a honra e o privilégio de me tornar seu secretário particular, função anteriormente exercida pelo jornalista Joaquim de Abreu Fialho e mais tarde por seu irmão Ernani Cademartori.

E hoje é com satisfação que recordo esse tempo.

Todos os sábados, no início da tarde, o nosso caro amigo Ubirajano Rosa estacionava o automóvel em frente à minha casa, que ficava a meio caminho, e dali partíamos, eu ele e o seu irmão Demétrio, que era o seu procurador, rumo ao escritório da empresa, localizada no recinto da Viação Férrea.

Nestes serões de fim de semana, que iam geralmente das duas horas da tarde até às dez da noite, depois da leitura e comentário do noticiário dos jornais, que eram A Plateia, o Diário de Notícias, o Correio do Povo e o El País do Uruguai, colocávamos toda a correspondência da semana em dia, que compreendia a dos escritórios das filiais de Passo Fundo e Porto Alegre e também dos nossos correspondentes no exterior, que eram Mauro Melli, em Buenos Aires, e Carlos Guldenzoph, em Montevidéu.

De suas mesas, Dom Sylvio e Dom Demétrio me ditavam o texto das cartas e memorandos, que eu ia anotando para depois datilografar e colocar sobre suas mesas para ler e assinar.

Depois de lerem e assinarem a correspondência, esta era envelopada e entregue ao fiel Ubirajano para levar à estação rodoviária local e à agência da ONDA, em Rivera, para seus respectivos destinos.

E então ficávamos conversando.

Durante essas ocasiões, na bonachona presença do seu irmão Demétrio, Dom Sylvio contava muitos fatos de sua vida, desde que era um jovem cobrador a cavalo num petiço da firma de seu cunhado Castorino Simão em sociedade com João Duarte, até tornar-se sócio deste último, sob a denominação de Duarte & Cademartori, e mais tarde diretor geral da empresa.

Um dos fatos pitorescos que me contou, corroborado por seu irmão Demétrio, foi a edificante história da cura de um bêbado que um dia eles e seus irmãos Otoni, Menoti e Augusto recolheram da Rua Silveira Martins, onde residiam quando ainda eram jovens, fazendo a boa ação de dar-lhe um banho, vestir-lhe um pijama limpo e deixá-lo dormir confortavelmente até acordar já em estado sóbrio, quando então lhe deram roupas limpas e sapatos e ainda o convidaram para um churrasco que estavam fazendo.

Essa pessoa, cujo nome não me foi revelado, em gratidão e homenagem aos irmãos Cademartori, deixou de beber e se tornou um grande amigo da família.

São lembranças que me ocorrem, do meu saudoso chefe e amigo, Sylvio Pouey Cademartori.

Luciano Machado.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

DON OMAR GARCIA DE LAPUENTE


Uma das pessoas mais corretas, educadas e amáveis que conheci foi o meu  chefe,  colega e amigo Dídimo Omar Garcia de Lapuente.

O Sr. Omar era o chefe encarregado dos depósitos de madeira, sob cuja responsabilidade estava o controle dos registros de estoques de tábuas dos mais diversos tipos e medidas destinados à exportação para o Uruguai e Argentina.

No Uruguai, o nosso representante comercial em Montevidéu era o Sr. Carlos Guldenzoph; e na Argentina, em Buenos Aires, o nosso amigo Mauro Méli.

No escritório que dividíamos entre diversos setores, o Sr. Omar Lapuente ocupava uma bela escrivaninha  de madeira trabalhada, com tampa retrátil e chaveada, onde guardava todos os seus arquivos e documentos.

Quando precisávamos qualquer informação a respeito de disponibilidade de estoque, o Sr. Omar no-la fornecia prontamente, e quando recebíamos as cartas de crédito em inglês ou espanhol, imediatamente a passávamos para que ele verificasse o tipo de madeira, as bitolas  e a quantidade, e já entrasse em contato com o amigo Garibaldi, que era o capataz dos depósitos, para que a madeira fosse separada e preparada para o carregamento, que era feito nos vagões uruguaios da A.F.E. – Administración  de Ferrocarriles Del Estado --  que tinham acesso aos nossos depósitos de madeira através do recinto da viação férrea brasileira.

Alto, magro, sempre elegante e bem vestido, usando chapéu e com o seu cabelo e bigode já grisalhos, o Sr. Omar era um homem distinto, austero, culto  e extremamente educado, e uma de suas maiores características era a de que não brincava em serviço, sempre sério e compenetrado em seus afazeres.

Nem mesmo o incorrigível  Adão Prates Paulo, nosso estimado colega e grande humorista que não levava ninguém livre, conseguia desviar sua atenção ou fazê-lo rir com seus chistes, brincadeiras e anedotas.

Mas lá um dia o Sr. Omar nos surpreendeu, ao contar-nos um fato hilário e verdadeiro.

Tinha ele ido com a família e um parente seu ao Restaurante El Galeón, em Rivera, num sábado à noite.  O restaurante estava lotado.  Seu parente havia chegado de campanha e estava com enorme apetite, e pediu ao garçom que lhe trouxesse um entrecot de la casa, que era uma das especialidades de El Galeón.

Quando todos os pratos foram servidos, o parente se atracou de garfo e faca no enorme bifão, com tanta avidez que este resvalou do prato e voou, indo pousar no decote de uma dama da mesa ao lado.  A mulher, apavorada, não sabia o que fazer, quando o dono do bife se ergueu da cadeira se foi, de garfo em punho, retirando o seu manjar  do decote da aflita senhora.

Este memorável incidente, no Restaurante El Galeón, na década de 60, foi talvez o único episódio, de que eu me lembro, que fez o Sr. Omar Lapuente sair fora do sério, no ambiente de trabalho, ao narrar-nos esse fato com detalhes.

O amigo Omar Lapuente é uma das pessoas cuja lembrança eu guardo com saudade, entre os meus chefes, mestres e colegas de trabalho, na extinta e valorosa empresa Sylvio P. Cademartori, Exportações de Madeira Ltda.

Luciano Machado




D. CONCEIÇÃO M. CADEMARTORI






Hoje vou relembrar e homenagear uma ilustre dama de nossa sociedade, Dona CONCEIÇÃO MACHADO CADEMARTORI, mãe dos pobres e das famílias carentes da comunidade e uma grande defensora dos ideais de justiça e liberdade.


Dona Conceição, esposa do meu saudoso chefe Sr. Sylvio Pouey Cademartori e também diretora de sua empresa juntamente com seu marido e os filhos Antonio Augusto Machado Cademartori e Flora Cademartori Mendina, era uma pessoa discretamente socialista e devotada aos problemas sociais da comunidade.

Às vezes, conversando comigo, ela me dizia: “Sabe, Luciano, tem pessoas que se queixam da vida e não olham ao seu redor. Se somos abençoados com dinheiro e saúde, isto não é de graça ou apenas para o nosso benefício pessoal, mas para termos força e capacidade de ajudar aos nossos irmãozinhos menos favorecidos”.

Dona Conceição era socialista e paradoxalmente uma adepta e profunda conhecedora do espiritismo, e embora não frequentasse nenhuma organização ou centro espírita, praticava o amor e a caridade a seu modo e segundo os preceitos de sua doutrina.

Pois ela não ajudava os pobres com o dinheiro do seu marido, e sim com o seu próprio dinheiro, em parte de seu pro-labore como diretora da empresa, e em parte com o dinheiro do jogo, pois era uma exímia jogadora de cartas, não em clubes, mas na sua própria casa, ou na casa de seus amigos, onde às vezes varavam as madrugadas.

Dona Conceição e algumas de suas amigas tinham um hábito curioso e interessante. Em determinados dias da semana, na parte da tarde, nos meses de primavera ou verão, iam tomar chá no cemitério. O motorista, Sr. Simão Gonçalves, as deixava na porta do cemitério e depois, de tardezinha, as ia buscar.

Um dia perguntei a ela por que faziam isto. E ela me respondeu:

“Pela paz, pelo silêncio, pelo perfume e a sombra dos ciprestes do lugar onde um dia todos seremos sepultados. É bom que a gente vá se familiarizando e acostumando com essa ideia.”

Alguns dos primeiros livros que li sobre a Doutrina Espírita, além dos livros básicos, me foram recomendados por ela, entre eles “NOSSO LAR” e “OS MENSAGEIROS”, ambos transmitidos pelo espírito de André Luis ao médium Chico Xavier.

Espero que o espírito de Dona Conceição esteja reunido com os de seus entes queridos que se foram antes e depois dela, com a Proteção e a Graça de Deus.

Luciano Machado

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O PAÍS DO CARNAVAL, DA RELIGIOSIDADE E DO FUTEBOL


(Crônica originalmente publicada em junho de 2010)


            No dia 15 de junho de 2010, com a estréia da Seleção Brasileira na Copa da África, ficou mais uma vez demonstrado como a nossa participação na Copa tem o poder de paralisar quase todos, senão todos os setores de atividade, agregar as pessoas e mobilizá-las para assistir a uma competição, vibrar, aplaudir e fazer festa.

Nesta terça-feira, foram centenas de milhares de brasileiros de todas as idades, cores, religiões e condições sociais, nos diversos Estados, abandonando suas casas e saindo às ruas para festejar a vitória brasileira no seu primeiro jogo.

Assistindo a essas manifestações de entusiasmo, alegria e contentamento do povo brasileiro, vimos a espontaneidade e a facilidade com que a multidão rapidamente ganhou às ruas para festejar a vitória por 2 x 1 de nossa Seleção contra a Coréia do Norte.  Imagino o que não acontecerá se o Brasil, mais uma vez, sagrar-se campeão mundial.  Esse povo irá à loucura.

Isso prova, mais uma vez, que existe entre nós, em relação ao futebol, um grande sentimento de nacionalidade.
  
Igualmente constatamos que, especialmente no Brasil, o Carnaval, a Religiosidade e o Futebol são os três grandes fatores mágicos capazes de magnetizar a atenção e mobilizar a sociedade.

E é justamente nesses momentos de descuido em que as pessoas estão concentradas, alheias ao mundo e por demais atentas ao seu objeto maior de interesse que se realizam os assaltos e roubos domiciliares, e algures, nos bastidores da política, alguns dos eleitos e bem remunerados inimigos do povo também aproveitam a oportunidade para tramar seus ardilosos planos contra a economia, as finanças, o bem estar social e o patrimônio público, que vão desde reuniões a portas fechadas, até conluios e acordos ultra-secretos para golpear a boa fé e os interesses da sociedade brasileira.

Portanto, quando alguém manifesta sua opinião em relação ao contra-senso dos que vão ao delírio em função da emotividade e do sentimentalismo -- enquanto por outro lado se deixam passivamente enganar, humilhar, esbofetear e roubar -- não é porque seja um alienado ou desmancha-prazeres, mas porque procura encarar a realidade e ainda alimenta algum sentimento de responsabilidade cívica, de indignação e de patriotismo.

Ah, se pudesse o nosso descuidado, mal fiscalizado e sofrido País contar com essa mesma disposição e esse mesmo entusiasmo dos cidadãos brasileiros em relação à Copa do Mundo para sair às ruas e bradar a sua indignação e inconformidade contra a patifaria, a corrupção e a ladroagem instituídas, aí as coisas seriam bem diferentes. 

    Luciano Machado

            

quarta-feira, 18 de junho de 2014


FRANCISCO (III)







Na crônica anterior com o mesmo título FRANCISCO (II) falava de uma pessoa que havia quarenta anos morava na capital.

Ele conhecia Porto Alegre como a palma de sua mão, desde as praças, ruas, vielas e becos do centro, com suas lojas, hotéis, bancos, museus, livrarias, repartições, abrigos de ônibus, salões, bares, cafés e restaurantes, até os bairros e vilas da periferia.

Como costumava andar a pé ou de ônibus, ele conhecia o povo e a malandragem das ruas, e sabia como se comportar em via pública.

“Quando alguém vem a Porto Alegre”, me dizia ele, “deve se vestir com uma roupa e calçados bem simples, se possível os mais velhos e surrados que tiver, e nada de joias como aneis, brincos, pulseira, correntes ou relógios. E ninguém, nem por brincadeira, queira ser diferente ou chamar a atenção. Porque os malandros estão de olho.”

Enquanto me dizia isto numa ocasião em que conversávamos no balcão de um bar da Rua da Conceição, onde tomávamos um café, olhando para fora através da vitrine perguntou se eu estava enxergando um sujeito de chapéu e óculos escuros encostado numa parede do outro lado da rua.

Disse que sim.

“Pois é um dos maiores assaltantes e gatunos que rondam por aqui. Por baixo daqueles óculos escuros está nos observando. Ele viu quando entramos neste bar, prestou atenção nas tuas roupas novas, na tua bolsa a tiracolo, nos teus sapatos de cromo alemão e no teu relógio de pulso ... Avaliando a tua roupa, a capanga, o sapato e relógio, isso deve valer mais de dois mil, fora o dinheiro que tu trazes no bolso. Isso é um perigo e um grande fator de risco para tua pessoa. Eu, se fosse tu, andaria bem mais desarrumado.”

Essa foi uma das lições que aprendi com o meu saudoso amigo Francisco, um homem simples e um verdadeiro sábio que já se foi deste mundo, e que me ensinou muitas coisas que oportunamente ainda vou relatar.

Agora, graças ao conselho do meu amigo Francisco, sempre que viajo, além de um vestuário simples, levo apenas uma toalha e uma muda de roupa numa sacola comum.

Com essa pequena bagagem, me aventuro por onde quiser, e sem nenhum receio de ser assaltado, pois, como dizia ele, assim sou mais um do povo.









Luciano Machado

Benito Orlando Cademartori


Em dezembro de 1963 comecei a trabalhar no grupo empresarial Cademartori, inicialmente na portaria, como ajudante do saudoso amigo Edgard Prates Paulo, que era o zelador do prédio e encarregado de serviços gerais.

 Depois fui chamado para trabalhar no escritório da empresa, que ficava no andar de cima, como auxiliar direto do Benito, que era um dos procuradores e o mais jovem irmão do diretor-geral Sr. Sylvio Pouey Cademartori.

Como auxiliar do Benito, fui aprendendo a lidar com os papéis e a documentação do setor de exportação de madeiras,  me familiarizei com o serviço bancário e  os contatos com os escritórios dos despachantes aduaneiros da época, entre os quais, no Brasil, Jaime Schiller e Ruy Lopes dos Anjos; e  no Uruguai, os despachantes Frós,  Angel Andrés e Luchesi.

 O ambiente de trabalho era dos mais fraternos e fora dele também.  Juntamente com o Benito, o meu compadre Adão Dorival Costa Silveira, o poeta Joaquim de Abreu Fialho, o Sr. Mário Simões Pires, que era o nosso chefe de escritório, e às vezes o nosso colega e amigo Omar Lapuente, assistimos a muitas sessões de cinema, quando ainda tínhamos o privilégio de ver, aqui na fronteira,  filmes franceses, ingleses e italianos. 

Também frequentávamos, nessa época, o Restaurante Sabo e a churrascaria El Rancho em Rivera, e nos finais de semana, em seu Packard lotado de gente, nos tocávamos com o Benito para o Aeroclube, de cuja diretoria ele fazia parte.

Andar de avião com o Benito era uma aventura das mais arriscadas e emocionantes.  Cada final de semana ele convidava um colega para dar um passeio de avião e perder o medo de voar. 

Quando chegou a minha vez, eu me lembro que decolamos do aeroclube e logo em seguida sobrevoávamos o Parque Grã-Bretanha, no lado uruguaio da fronteira.

Era um domingo de tarde e o autódromo estava lotado.  Depois de sobrevoarmos o parque e a represa de Rivera, o Benito inventou de dar uns rasantes sobre a pista de corrida, o que assustou e irritou enormemente o pessoal que ali se encontrava.

Outra proeza do Benito era ir de avião até a fazenda do seu irmão, Don Sylvio, e chegando lá, depois de se elevar a algumas centenas de metros, largar o avião de bico, em parafuso, deixando o pessoal indignado com essa brincadeira.

Outra grande figura, que Deus o tenha, era o seu irmão Menotti.  Uma vez o Menotti telefonou de Uruguaiana, aí pelas 4 horas da tarde, dizendo que tinha sofrido um acidente.  Preocupado, Don Sylvio pediu para o Benito pegar um avião no aeroclube e voar urgentemente para Uruguaiana a fim de atender ao Menotti.

Lá chegando, o Benito deixou o avião no aeroclube, pediu um táxi e se dirigiu ao endereço onde o Menotti havia dito que se encontrava, na rua tal número tal.  Mas qual não foi a sua surpresa quando encontrou o Menotti num hotel, em perfeito estado de saúde, dizendo que sofrera um ligeiro mal estar, porém  já havia se recuperado e estava muito bem.

Com o seu automóvel Packard, o Benito proporcionava um espetáculo que sempre se repetia em dias de chuva.  Ele fazia um cavalo de pau antes de entrar no portão principal, ou seja, em vez de dobrar à direita, freava abruptamente fazendo com que o seu carrão resvalasse nos paralelepípedos molhados e ficasse em posição perpendicular à entrada do portão da garagem da firma.

Mais tarde o Benito trocaria o seu Packard por um Aero Willys azul, que o acompanhou por muitos anos, mesmo depois que foi gerenciar o escritório da empresa em Porto Alegre.

O Benito dava um olho por uma briga.  Sempre foi assim.  E para não perder o costume, depois que foi para Porto Alegre, quando  um ônibus lhe cortava a frente na Av. Farrapos, ele acelerava o seu Aero Willys,  interceptava o ônibus lá adiante, parava no meio da rua e descia do carro para tirar satisfação do motorista.  O motorista apavorado, imaginando quem podia ser aquele homem que parava o seu automóvel no meio da faixa e interrompia o trânsito para lhe tirar satisfações, pedia desculpas e ia embora.

Depois que prestei o serviço militar, retornei à empresa e também fui transferido para a filial de Porto Alegre, para trabalhar com o Benito.

Nessa época, além do Gerson e da Denise, o Benito também já era pai dos gêmeos Jaime e Juarez.

A nossa rotina laboral em Porto Alegre era a seguinte: de manhã ficávamos os dois no escritório e na parte da tarde eu ficava sozinho, enquanto o Benito ia para o Centro atender o serviço bancário.  Depois dos bancos ele costumava chegar no escritório do despachante Antonio Delapieve, onde se demorava até às sete ou oito horas da noite, chegando no escritório aí pelos 8:30.  Então preparávamos a correspondência para Livramento, que ele me ditava e eu datilografava.  Essa correspondência, às vezes demorada, devia ficar pronta até às dez horas da noite, hora em que saía o ônibus da rodoviária para Livramento.  Mas às vezes passava da hora e tínhamos que sair de carro, em alta velocidade, atrás do ônibus da empresa Ouro e Prata, que geralmente interceptávamos depois da ponte do Guaíba, para entregar o pacote com a correspondência para Livramento diretamente ao motorista.

Consegui trabalhar com o Benito em Porto Alegre durante um ano e meio, atendendo ao serviço geral do escritório e redigindo a correspondência diária, ditada por ele, que eu datilografava e devia estar pronta até às 22 horas, de modo que permanecíamos envolvidos com o trabalho do escritório de doze a catorze horas por dia.

Em 1969, em função dessa carga horária e do volume de serviço, o Benito era pavio curto e eu também,  nos desentendemos  e eu  retornei para Livramento.

Continuei trabalhando na firma em Sant’Ana do Livramento até 1979, quando então fiz concurso e ingressei no Banco do Brasil.

Nessa oportunidade, Dona Flora Cademartori Mendina, Dona Zulma Peres Cademartori, viúva de Antonio Augusto, e seus filhos Sylvio Cademartori Neto, João Francisco e Paulo de Tarso Peres Cademartori, de comum acordo,  tiveram a generosidade de me conceder uma rescisão de contrato de trabalho com indenização por parte da empresa, pagando-me o FGTS e todos os demais direitos trabalhistas.  Não podia deixar de registrar meu reconhecimento, abrindo um parêntese nesta crônica sobre o Benito, a esse gesto de nobreza e camaradagem da família Cademartori.  

Em 1981 o Benito veio me visitar na agência do BB de Santana do Livramento.

Depois não nos vimos mais, até que ele veio a falecer, em Porto Alegre, em 1986.

O Benito, hoje representado por seus familiares, D. Telma e filhos, com os quais compartilho a minha saudade, foi sem dúvida um grande chefe, mestre e amigo.

Luciano Machado




A QUIXOTESCA FIGURA DO ADVOGADO MARIO CUNHA

Nas décadas de 40 e 50 viveu por estes pagos o famoso e quixotesco causídico Mário Cunha, membro de tradicional família santanense.

Mário Cunha, com seus dois metros de altura e o seu corpanzil, era um paladino da justiça, mas tinha a sua maneira toda própria de ser e de atuar na vida pública.

Conta-se que certa vez chegou de manhã num dos cartórios do antigo Fórum em frente à Praça General Osório, retirou a sua capa e o seu sombrero, colocou-os num cabide, e da cintura retirou o seu revólver 38, e o colocou ostensivamente sobre a mesa, junto à qual um atento escriturário estava datilografando o que lhe ditava o chefe do cartório, numa antiga máquina de escrever da marca Remington. Mário Cunha, sem dar nenhuma satisfação ao titular do cartório nem ao seu escrevente, arrancou da máquina o papel que estava sendo datilografado e alcançou ao escriturário uma nota de duzentos reis dizendo:

-- Vai ali no Ponto Chic e me compra um charuto! O rapaz levantou-se, agarrou a nota e saiu, enquanto Mário Cunha se aboletava na cadeira, enfiava outro papel na máquina e iniciava a redação de um texto seu.

Mário Cunha era proprietário de um jornal chamado A CIDADE, o seu principal adversário de contendas políticas era o nosso historiador Ivo Caggiani. Seus ‘duelos’ pela imprensa eram frequentes. De um lado o jovem jornalista Ivo Caggiani, em início de carreira, e de outro, o veterano advogado e também jornalista Mário Cunha. O próprio historiador, numa rodada de mate em sua casa, foi quem nos contou, a mim e ao radialista Antonio Carlos Valente, sobre essa longa querela que manteve com Mário Cunha, através de suas respectivas colunas de jornal, que Mário afinal venceu, dando-lhe o golpe de misericórdia com um artigo intitulado “A PÁ DE CAL”.

Com isso, Caggiani reconheceu a superioridade dialética do adversário, a quem muito admirava, e então cessaram os debates.

Conversando com o Dr. Fernando Góes, disse-nos que não apenas conheceu Mário Cunha pessoalmente, mas também com ele conviveu, visto que era amigo do seu pai Francisco, e do seu tio Severino, outra figura extraordinária que, certa vez, conversando com um cônsul da França que visitava a fronteira, este lhe perguntou como ele, vivendo nestas paragens bravias, conhecia tão bem o idioma francês.

Ao que Severino respondeu:

“Nesta fronteira agreste, qualquer peão de estância fala bem o francês!”

O que o Cônsul não sabia era que o seu interlocutor havia estudado na Suíça.

Quanto a Mário Cunha, teve muitas passagens dignas de serem relembradas. Uma delas aconteceu quando participava de um Júri, numa pequena cidade do interior gaúcho, como advogado de defesa, enquanto outro reconhecido e brilhante advogado, natural do lugar, atuava na acusação. Num certo momento, o outro advogado, fazendo uso da palavra, perguntou a Mário se ele, sendo da Fronteira, não conhecia esta frase do Martin Fierro: “Onde baila este toro no baila ningún ternero ...”

Ao que Mário Cunha, percebendo a ironia, respondeu:

“Sim. Claro que conheço. Mas saiba o nobre colega que nestas minhas andanças pelo Rio Grande afora, tenho agarrado muitos desses touros pelas guampas ...”

Outra vez, havendo um touro seu ganhado um prêmio numa exposição, convidou seus amigos para comemorarem com um churrasco em sua chácara, lá no Marco do Lopes. Como não havia nenhuma rês para carnear, mandou um empregado na cidade comprar alguns quilos de carne. Mas o homem começou a demorar, já passava do meio dia, e todos estavam com muita fome.

Mário Cunha deu uma pitada no seu charuto, olhou pensativamente para a estrada e disse: “Sabem de uma coisa, vamos abater este touro”.

E acabaram almoçando o touro premiado.

Luciano Machado

FRANCISCO (II)

Eu havia deixado meu Maverick estacionado junto à calçada da Voluntários da Pátria, em frente ao velho hotel onde o Francisco residia. 

Entramos no Maverick e logo em seguida rumávamos pela avenida Farrapos. 

Daí a quinze minutos estacionávamos em frente ao Hotel De Conto, onde entrei e me dirigi à portaria, reservando um quarto com banheiro e deixando lá a minha sacola de viagem. 

E então dali nos dirigimos à Churrascaria Boi na Brasa, a duas quadras. 

Logo ao entrar, nos deparamos com o Paulo Santana, que estava sentado a uma mesa acompanhado de uma senhora e uma menina. 

A churrascaria estava cheia. 

Eu e o Francisco tomamos uma mesa perto da parede onde havia um enorme mapa antigo da Alemanha. 

Conhecedor que era de geografia, apaixonado por mapas antigos e pelo estudo das etnias estrangeiras, o Francisco se ergueu da cadeira e foi até o mapa que estava afixado na parede a dois metros de distância, e ali começou a me mostrar, apontando no mapa com o dedo para os diversos cantões da Alemanha e dizendo para mim em voz alta de onde provinham respectivamente as diferentes famílias de imigrantes como os Schmidt, os Müller, etc. 

Diante daquele sujeito falando comigo em voz alta, o rumor de vozes das pessoas ao redor silenciou e todos ficaram admirados com a naturalidade, a desenvoltura e o conhecimento demonstrados pelo Francisco, traduzindo para o português e nomeando as diferentes localidades do mapa. 

Vendo que as pessoas ali presentes estavam prestando atenção no que dizia, até porque algumas eram de origem alemã, começou a se dirigir também a elas, inclusive respondendo a algumas perguntas, enquanto eu fazia os pedidos de bebida ao garçom, antes de nos dirigirmos ao bufet com toda uma variedade de saladas e carboidratos para acompanhar a carne que depois seria servida à moda espeto corrido. 

Voltando à mesa satisfeito com a atenção e a receptividade que recebera das pessoas em sua “aula de geografia e etnia alemã”, Francisco pediu ao garçom um vinho tinto seco. E então nos dirigimos ao bufet para nos servirmos de saladas, arroz e outros carboidratos. 

O churrasco estava muito bom e ali permanecemos quase duas horas comendo, bebendo e conversando sobre diversos assuntos, desde política até astronomia, pois o Francisco, com seus 67 anos de idade, era um sujeito extraordinariamente bem informado e possuidor de uma grande cultura intelectual. 

Era passado da meia noite quando deixamos a churrascaria e o levei de volta ao seu hotel da Voluntários. 

Ao chegarmos na frente, havia um pequeno tumulto e as mulheres estavam agitadas. Um cafetão havia empurrado escada abaixo um pobre diabo que havia tentado “beiçar” uma mulher e o sujeito, tendo caído pela escada, havia se machucado. 

Esta é uma cena comum por aqui. Só acontece entre eles e a polícia não intervém. Mas não te preocupa. Sempre que vieres aqui à minha procura, diz que és amigo do Francisco e não passa nada. 

E assim nos despedimos, eu e o Francisco, naquela noite de sexta-feira, em dezembro de 1989.

Luciano Machado




NA VERDADE O TEMPO NÃO PASSA, APENAS ASSISTE



O Tempo (Chronos) é um sujeito enorme, pacato e pachorrento, sentado numa pedra, observando a vida passar ao seu redor.

Quem passa pelo tempo somos nós em diferentes velocidades. Ou não é verdade?

A Teoria da Relatividade é uma coisa incrível e maravilhosa. O próprio Einstein envelheceu e morreu porque passaram pelo tempo todos os seres ou microorganismos que viviam nele.

Einstein passou pelo tempo, assim como passaram milhões de outros seres humanos e animais. Todos passam ou se terminam. Mas nem tudo passa ou se termina enquanto nós passamos, como é o caso daquela velha árvore macróbia e daquela rocha, que aparentemente continuam as mesmas, pois já apareciam naquela centenária fotografia, ao lado do nosso bisavô, quando ele era guri.

A prova de que nós é que passamos (seres humanos e animais), em diferentes velocidades, é que aqueles que ficam parados no tempo ou inertes, como as árvores e as rochas, parecem viver mais.

Nascer, crescer, viver, realizar ou não alguma coisa e morrer mais cedo ou mais tarde é uma questão de velocidade, nossa ou dos seres que nos habitam ou de que somos formados.

Quando nascemos, de um óvulo, e crescemos, até a idade de um ano ficamos em relativo repouso; quem se movimenta são trilhões de pequeninos seres (micróbios) que vivem (fervilham) em nós e de que somos o universo.

Da mesma forma, como o tempo, o grande universo (macrocosmo) não se move. Quem se movimenta são as suas partículas e os seres vivos ou animados que nele habitam.

Quando olhamos para uma pedra, ela nos parece inanimada, mas ela é formada por uma enorme quantidade de partículas atômicas em movimento.

O próprio planeta que habitamos é uma bola, atada a um fio invisível, que um gigante também invisível rebola no espaço; um espaço que contém miríades de outros corpos celestes em movimento, nem todos presos a uma órbita por esse fio invisível. De modo que a possibilidade que temos de nos chocarmos e de nos espatifarmos é espantosa: os corpos celestes de se chocarem entre si e os seres humanos ( os animais têm mais juízo ) de colidirem uns contra os outros.

E o Tempo não tem nada a ver com isso.

Luciano Machado

ANTONIO AUGUSTO CADEMARTORI


Depois de ter escrito sobre seu pai, seu tio e sua mãe, reservei esta página para lembrá-lo de um modo muito especial. 

Na verdade, devo a ele a oportunidade de meu primeiro emprego, na empresa de seu pai, de que ele era um dos principais sócios administradores, juntamente com sua mãe, dona Conceição, sua esposa, dona Zulma e sua irmã dona Flora Cademartori Mendina.

Por determinação sua, ingressei na empresa em 1963, em caráter de experiência e estágio, fui efetivado em janeiro de 1965 e nela me mantive até janeiro de 1980, quando, aprovado em concurso público, me afastei para assumir como funcionário do Banco do Brasil.

Foram praticamente quinze anos de convívio, período em que me integrei profissionalmente à empresa e me tornei amigo de toda a família, laços de amizade e cordialidade que ainda hoje mantenho com seus filhos Sylvio, Paulo de Tarso e João Francisco.

E é por mim e por eles, e também por dona Zulma, que lembro de Antonio Augusto, e que bem sei compartilharão comigo esta grata e carinhosa recordação.

Antonio Augusto foi uma das pessoas mais sensíveis e magnânimas que conheci, e seus amigos hão de concordar comigo.

Se por vezes se aborrecia com alguém ou pudesse parecer momentaneamente zangado por algum motivo, no fundo da alma era um homem extremamente bondoso, e daí a momentos se mostrava de uma indulgência e generosidade tão grandes que ninguém podia se sentir magoado.  Era preciso conhecê-lo para saber o quanto queria bem a seus funcionários e se preocupava com o bem estar geral, muito mais talvez do que consigo mesmo.

Uma prova disso era meter-se de terno e gravata embaixo de um veículo em conserto na oficina que funcionava nos fundos do prédio da empresa para examinar pessoalmente um problema mecânico, saindo de lá tão sujo que a dona Zulma ficava indignada.  Mas Antonio Augusto respondia com um sorriso e um dar de ombros.  Para ele, isso não tinha a menor importância.  Tirava o casaco, arregaçava as mangas, lavava-se e voltava para o seu gabinete de trabalho.

A todos atribuía um espirituoso e carinhoso apelido.  Havia o Garrão de Vidro, o Punhalada,  o Chirú, o Gar, o Mulita,  o General, o Coringa, o Prates, o Dudu, o Nonô, o Baldi, o Lúcius e o Conde (assim chamava o seu tio Benito por este residir na rua Conde de Porto Alegre) e assim por diante.

Era hábito seu mandar pintar as tampas dos motores dos jipes novos da firma, na medida em que iam sendo adquiridos, e que chegaram ao número de doze, cada um de uma cor diferente, para melhor identificá-los, pelo capô, como o preto, o vermelho, o cinza, o amarelo, o verde, o azul, etc., assim como mandar erguer e reforçar a suspensão dos veículos novos, recém adquiridos, especialmente das camionetas Ford e Chevrolet, assim que chegavam dos concessionários, para melhor enfrentarem as estradas de campanha.

E quando o seu pai lhe perguntava por que estava alterando as características dos veículos, ele respondia com um sorriso:

-- Isto é para que o Dr. Vallejo (o mecânico da empresa) não fique sem fazer nada ...

Nas imediações do prédio da firma morava um cidadão a que ele chamava de “engenheiro Monteiro” ou “professor Monteiro”, porque o Monteiro pra tudo tinha uma solução com o seu gênio sábio e inventivo.  Quando havia algum problema aparentemente insolúvel, ele dizia:

-- Chamem o professor Monteiro !

Antonio Augusto gostava de se certificar pessoalmente, e às vezes arriscadamente, de tudo o que estava acontecendo. Isto gerava lances bem pitorescos de sua jovial e destemida personalidade.  Numa tarde chuvosa, depois de sair pela porta do seu gabinete, desapareceu do recinto da firma.  Procurado por toda parte, não foi encontrado.  O guarda e o porteiro juravam que não havia saído à rua pelo portão dos fundos ou pela porta do  prédio do escritório.  Também não estava nos depósitos ou na oficina mecânica.  A tarde caía e ninguém sabia informar o paradeiro do chefe.  Onde estaria Antonio Augusto?

De repente ele desceu por uma escada.  Estava em cima do telhado, verificando um problema de goteiras com o Monteiro ...

Afeiçoado à sua terra por laços de carinho e amizade, e sem nenhum interesse político, nunca deixava de atender a um pedido de auxílio para as instituições caritativas e paróquias da cidade.

Antonio Augusto faleceu repentinamente em 1979, aos 48 anos de idade, sem ter a felicidade de conhecer seus netos, mas deixou-nos a certeza de que seria um avô tão dedicado a eles como o foi como pai, educador e amigo de seus filhos.

Por tudo isso e muito mais, Antonio Augusto Machado Cademartori permanece na memória e no coração de todos nós ...


Luciano Machado