SOPHIA ...
Nada
melhor às vezes do que fazerem uma pausa e olharem as pessoas no seu próprio “espelho”,
refletindo pensamentos, palavras e atitudes.
Nem
tudo que temos em mente deve ser declarado ou comunicado a outrem numa
conversa, numa palestra, ou mostrado por escrito numa poesia, crônica ou
artigo, e muito menos nas páginas de um livro.
Algo deve permanecer conosco, para meditarmos, como a água que brota de
um manancial, se evapora, e volta a cair sobre si mesma, sublimada e
purificada.
Saber
refrear esse ímpeto, de tudo divulgar, é uma coisa que aprendemos com o tempo e
o amadurecimento. E há lições que melhor
aproveitamos no silêncio da meditação, para a economia do nosso próprio ser,
para melhorarmos a nós mesmos e não aos outros.
Pensar
e escrever para si mesmo é uma regra terapêutica, moral e intelectual, que
todas as pessoas deveriam observar, e não apenas os que fazem do escrever uma
forma impulsiva de se comunicar ou declarar o que pensam sem refletir no efeito
ou conseqüência de suas palavras.
Existem
idéias e conceitos cujas sementes devem primeiro germinar, brotar, florescer,
frutificar e amadurecer no pé, para só
depois serem os frutos generosamente repartidos, a fim de que não façam mal ou
causem alguma indigestão, e não tenhamos que nos sentir culpados ou
arrependidos de os ter distribuído antes do tempo.
Nossos
antepassados indígenas, que habitaram este chão, e do qual não se consideravam
donos, mas apenas usufrutuários, em sua primitiva porém sábia cultura não
permitiam que seus filhos arrancassem frutos verdes; e lhes ensinavam que
deviam observar a mudança das cores, que era o sinal da natureza, em sua
linguagem muda, para mostrar que então sim podiam ser colhidos e consumidos.
Este
conhecimento não se perdeu; foi apenas atropelado no tempo pela voracidade
imediatista que infelizmente também atinge os que pensam, escrevem e formulam
com sofreguidão, com receio talvez de perder a primazia diante da
competitividade e da ganância que o mundo lhes apresenta. Mas a Mãe Natureza, todavia, em todos os
planos, continua sendo a maior fonte de orientação, de conhecimento e de
sabedoria. Ela é um perpétuo manancial
de aprendizado, de cujo seio sabiam beber os antigos, amando-a e respeitando-a,
como geratriz da vida e de si mesmos, de sua instrução e aperfeiçoamento.
Por
esse “philos-gyné”: amor à Deusa Mãe e ao Conhecimento que dela obtinham, os
gregos a chamavam, carinhosamente, de Sophia.
Luciano
Machado
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