quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

OS NEGROS

Depois da frustrada nomeação de um branco para importante cargo de chefia de um órgão público federal, por ter sido este acusado de torturar um ex-sacerdote negro, foi nomeado, para aquele cargo, justamente um homem negro, que parecia reunir todas as qualidades e requisitos de probidade pessoal e integridade profissional para o seu desempenho.
Aliás, tenho observado que os negros se destacam, mais do que os brancos, em diversas áreas. É o que vemos, por exemplo, na música e no cinema, no desempenho de velhos artistas e novos atores e atrizes em papéis principais. Também os encontramos em destaque na literatura, como é o caso de João da Cruz e Souza, um de nossos melhores poetas, filho de escravos alforriados e Machado de Assis, nosso maior escritor, filho de um mulato e de uma açoriana, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. E isso não lhes foi proporcionado pela concessão de ninguém em particular, mas pela impositiva exigência de seus próprios talentos, méritos e qualidades, fossem estas qualidades intrínsecas ou extrínsecas, no âmbito da arte e também em outros diferentes contextos e níveis de atuação. Ao longo da história os negros têm se destacado nas ciências humanas, jurídicas e sociais, e no desempenho eficiente e eficaz de altos cargos públicos civis, militares e eclesiásticos, e em diversas funções de Estado, e não apenas, o que seria natural, nos países de raça negra, mas no governo de grandes e importantes nações onde atualmente predomina a raça branca, como é o caso, agora, do exercício da presidência dos Estados Unidos da América pelo mandatário negro Barack Obama.
Para citar um exemplo histórico, na área militar, o comandante-em-chefe dos exércitos do ocidente em 1794 e mais tarde um dos grandes generais do exército de Napoleão chamava-se Alexandre Davy de La Pailleterie Dumas, um negro de família nobre do Haiti, pai do escritor Alexandre Dumas e avô do escritor Alexandre Dumas Filho.
Existe um importante documento, de autoria do médico e escritor libanês Jorge Adoum, intitulado “O Ciclo das Raças”, onde se estabelecem os períodos em que as diferentes raças predominaram em poder, sabedoria e beleza sobre o nosso planeta. E uma delas foi a negra no chamado Período Etíope. Nesse tempo, os negros eram os senhores e os brancos seus escravos. Dessa aristocracia negra, ainda hoje encontramos vestígios de nobreza no comportamento e nos traços de alguns indivíduos, homens e mulheres, de pele morena.
O que não significa que os negros, assim como os brancos, vermelhos e amarelos, sejam infalíveis ou incorruptíveis. Existem pessoas íntegras e cafajestes em todas as raças. Todos somos seres humanos e, como tais, sujeitos aos mesmos princípios e leis, impasses e vicissitudes que regem a existência, a moral e o aperfeiçoamento dos indivíduos.
No decurso da minha vida, e no desempenho de minhas atividades, tenho convivido com colegas e amigos negros, inclusive em cargos de gerenciamento ou de chefia, que nunca me decepcionaram em lealdade, companheirismo e amizade. Eu poderia apresentar aqui uma relação imensa de pessoas da raça negra com quem convivi e ainda convivo. Aliás, de todos eles, homens e mulheres, tenho guardado uma afetuosa e grata recordação. Eles me demonstraram que a união, a fraternidade e o respeito mútuo entre os indivíduos de diferentes raças ou etnias pode tornar o mundo melhor, mais humano, mais justo, mais bonito e bom de ser habitado, apesar de todos os conflitos e adversidades gerados pelos inimigos do bem comum.

Luciano Machado

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