O MESTRE FRANCISCO
WALDOMIRO LORENZ
Na
época em que a Tchecoslováquia estava prestes a anexar a Boêmia húngara ao seu
território, um jovem boêmio, agitador político, desafiando o regime do seu
país, discursava em cima de uma mesa quando foi alertado por um companheiro de
que a polícia havia invadido sua casa, confiscado sua biblioteca, e estava
atrás de si para prendê-lo. Seu nome era
Francisco Waldomiro Lorenz.
Diante
disso procurou um casal amigo que sabia estar de viagem marcada para o Brasil.
Por sorte ou coincidência, esse casal havia providenciado três passagens, mas o
filho do casal não poderia acompanhá-los, pelo que lhe cederam a passagem e
Waldomiro ocupou o lugar do rapaz.
E
assim o jovem Francisco chegou ao Brasil, no porto de Rio Grande, lá pelo ano
de 1915, onde foi abandonado à sua sorte apenas com a roupa do corpo e uma
pequena mala com alguns pertences. Enquanto pensava no que haveria de fazer para
sobreviver num país estranho, começou a trabalhar como estivador no cais do
porto e depois embrenhou-se pelo interior do estado do Rio Grande do Sul como
um andarilho. Nessas andanças, nos contou
o nosso saudoso amigo e livreiro Sr. Dario Farias, que o conhecera
pessoalmente, foi encontrado por um piquete de cavalaria que arregimentava gente
para lutar na primeira guerra.
Perguntado quem era e o que andava fazendo, Francisco, que mal sabia
falar o idioma português, mas já era um sábio, hipnotizou o comandante e fez um
gesto com a mão, como quem diz “vá embora”.
E o capitão deu meia volta em seu cavalo e disse “Vamos embora,
pessoal”, e o deixaram em paz.
Depois
de perambular por vários lugares a procura de trabalho, chegou a Dom Feliciano,
na época um pequeno povoado que pertencia à comarca de Encruzilhada do Sul,
onde negociou uma casa e um terreno para pagar a prazo com produtos futuros de
uma lavoura que pretendia cultivar.
Porém
fez mais do que isso. Além de começar a
plantar por conta própria, empregando aí suas poucas economias, criou em seu
pequeno sítio um albergue para crianças carentes, às quais educou e ensinou o
cultivo da terra, gerando assim uma comunidade infanto-juvenil em torno de uma
escola rural por ele mesmo
administrada.
Autodidata,
estudou a língua portuguesa e a anexou ao seu cabedal de conhecimentos
lingüísticos que chegou a alcançar mais de 70 idiomas falados e escritos entre
línguas e dialetos.
Foi
um dos primeiros colaboradores do Almanaque do Pensamento e da revista do
Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, escrevendo à noite, a lápis, em
papel de embrulho e à luz de velas, porque durante o dia trabalhava na lavoura
e lecionava suas crianças, enquanto sua esposa cozinhava para todos.
Francisco Waldomiro Lorenz publicou
inúmeros livros, entre os quais um dicionário da língua Tupi-Guarani e o seu
famoso romance O Filho de Zanoni.
Por
uma dessas coincidências da vida, tive em mãos na cidade de Alegrete, enquanto
lá trabalhava como bancário, um diário manuscrito de sua autoria, de caráter
autobiográfico, que me foi emprestado por um neto seu e que infelizmente
devolvi sem ter podido tirar uma cópia, onde se confirmavam as informações que
eu já possuía e que me foram relatadas por diversas pessoas que de algum modo
estiveram ligadas a esse grande espiritualista, mestre maçom, rosacruz, doutor
em cabala, que desencarnou aos 85 anos, em Porto Alegre , em 1957.
Luciano Machado
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