sábado, 15 de agosto de 2015

Benito Orlando Cademartori

Em dezembro de 1963 comecei a trabalhar no grupo empresarial Cademartori, inicialmente na portaria, como ajudante do saudoso amigo Edgard Prates Paulo, que era o zelador do prédio e encarregado de serviços gerais.

 Depois fui chamado para trabalhar nos escritórios da empresa, que ficavam no andar de cima, como auxiliar direto do Benito, que era um dos procuradores e o mais jovem irmão do diretor-geral Sr. Sylvio Cademartori.

Como auxiliar do Benito, fui aprendendo a lidar com os papéis e a documentação do setor de exportação de madeiras, familiarizando-me com o serviço bancário e  os contatos com os escritórios dos despachantes aduaneiros da época, entre os quais, no Brasil, Jaime Schiller e Ruy Lopes dos Anjos; e  no Uruguai, os despachantes Frós,  Angel Andrés e Luchesi.

 O ambiente de trabalho era dos mais fraternos e fora dele também.  Juntamente com o Benito, o meu compadre Adão Dorival Costa Silveira, o poeta Joaquim de Abreu Fialho, o Sr. Mário Simões Pires, que era o nosso chefe de escritório, e às vezes o nosso colega e amigo Omar Lapuente, procurador e gerente dos estoques de madeira, assistimos a muitas sessões de cinema, quando ainda tínhamos o privilégio de ver, aqui na fronteira,  filmes franceses, ingleses e italianos. 

Também frequentávamos, nessa época, o Restaurante Sabo e a churrascaria El Rancho em Rivera, e nos finais de semana com seu Packard lotado de gente, nos tocávamos para o Aeroclube, de cuja diretoria ele fazia parte.

Andar de avião com o Benito era uma aventura das mais arriscadas e emocionantes.  Cada final de semana ele convidava um colega para dar um passeio de avião e perder o medo de voar. 

Quando chegou a minha vez,  lembro que decolamos do aeroclube e logo em seguida sobrevoávamos o Parque Grã-Bretanha, no lado uruguaio da fronteira.

Era um domingo de tarde e o autódromo estava lotado.  Depois de sobrevoarmos o parque e a represa de Rivera, o Benito inventou de dar uns rasantes sobre a pista de corrida, o que assustou e irritou enormemente o pessoal que ali se encontrava.

Outra proeza do Benito era ir de avião até a fazenda do seu irmão, Don Sylvio, e chegando lá, depois de se elevar a algumas centenas de metros, largar o avião de bico, em parafuso, deixando o pessoal indignado com essa brincadeira.

Outra grande figura, que Deus o tenha, era o seu irmão Menotti.  Uma vez o Menotti telefonou de Uruguaiana, aí pelas 4 horas da tarde, dizendo que tinha sofrido um acidente.  Preocupado, Don Sylvio pediu para o Benito pegar um avião no aeroclube e voar urgentemente para Uruguaiana a fim de atender ao Menotti.

Lá chegando, o Benito deixou o avião no aeroclube, pediu um táxi e se dirigiu ao endereço onde o Menotti havia dito que se encontrava, na rua tal número tal.  Mas qual não foi a sua surpresa quando encontrou o Menotti num hotel, em perfeito estado de saúde, dizendo que sofrera um ligeiro mal estar porém já havia se recuperado e estava muito bem.

Com o seu automóvel Packard, o Benito proporcionava um espetáculo que sempre se repetia em dias de chuva.  Ele fazia um cavalo de pau antes de entrar no portão principal, ou seja, em vez de dobrar à direita, freava abruptamente fazendo com que o seu carrão resvalasse nos paralelepípedos molhados da rua e ficasse com a frente voltada para o portão de entrada da garagem da firma.

Mais tarde o Benito trocaria o seu Packard por um Aero Willys azul, que o acompanhou por muitos anos, mesmo depois que foi gerenciar o escritório da empresa em Porto Alegre.

O Benito dava um boi por uma briga.  Sempre foi assim.  E para não perder o costume, depois que foi para Porto Alegre, quando  um ônibus lhe cortava a frente na Av. Farrapos, ele acelerava o seu Aero Willys,  interceptava o ônibus lá adiante, parava no meio da rua e descia do carro para tirar satisfação do motorista.  O motorista apavorado, imaginando quem podia ser aquele homem que parava o seu automóvel no meio da faixa e interrompia o trânsito para lhe tirar satisfações, pedia desculpas e ia embora.

Depois que prestei o serviço militar, retornei à empresa e também fui transferido para a filial de Porto Alegre, para trabalhar com o Benito.

Nessa época, além do Gerson e da Denise, o Benito também já era pai dos gêmeos Jaime e Juarez.

A nossa rotina laboral em Porto Alegre era a seguinte: de manhã ficávamos os dois no escritório e na parte da tarde eu ficava sozinho, enquanto o Benito ia para o Centro atender o serviço bancário.  Depois dos bancos ele costumava chegar no escritório do despachante Antonio Delapieve, onde se demorava até às sete ou oito horas da noite, retornando ao escritório aí pelos 20:30.  Então preparávamos a correspondência para Livramento, que ele me ditava e eu datilografava.  Essa correspondência, às vezes demorada, devia ficar pronta até às dez horas da noite, hora em que saía o ônibus da rodoviária para Livramento.  Mas às vezes passava da hora e tínhamos que sair de carro, em alta velocidade, atrás do ônibus da empresa Ouro e Prata, que geralmente interceptávamos depois da ponte do Guaíba, para entregar o pacote com a correspondência para Livramento diretamente ao motorista.

Consegui trabalhar com o Benito em Porto Alegre durante um ano , atendendo ao serviço geral do escritório e redigindo a correspondência diária, ditada por ele, que eu datilografava e devia estar pronta até às 22 horas, de modo que permanecíamos envolvidos com o trabalho do escritório de doze a catorze horas por dia.

Em 1969, em função dessa carga horária e do volume de serviço, nos desentendemos  e eu  retornei para Livramento.

Continuei trabalhando na firma  até 1979, quando então fiz concurso e ingressei no Banco do Brasil.

Nessa oportunidade, Dona Flora Cademartori Mendina, Dona Zulma Peres Cademartori, viúva de Antonio Augusto Cademartori, e seus filhos Sylvio Cademartori Neto, João Francisco e Paulo de Tarso Peres Cademartori, de comum acordo,  houverem por bem fazer comigo  uma rescisão de contrato de trabalho com indenização por parte da empresa, pagando-me todos os  direitos trabalhistas.  Não podia deixar de registrar meu reconhecimento, abrindo um parêntese nesta crônica, a esse gesto de nobreza da família Cademartori.  

Em 1981 o Benito veio a Livramento e foi me visitar na agência local do BB.

Depois não nos vimos mais, até que ele veio a falecer, em Porto Alegre, em 1986.

O Benito, hoje representado por seus familiares, D. Telma e filhos, com os quais compartilho a minha saudade, foi sem dúvida um grande chefe, mestre e amigo.

Luciano Machado



3 comentários:

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