domingo, 22 de fevereiro de 2009

O CONDE DE CAGLIOSTRO

Alexandre Cagliostro nasceu na Itália, de família humilde, com o nome de batismo de Giuseppe Bálsamo.
Ainda com o nome de José Bálsamo, por uma dessas coisas do destino abandonou a casa paterna e saiu a correr mundo muito cedo. Esperto, curioso e aventureiro, em suas viagens foi aprendendo muitas coisas, principalmente no campo do esoterismo, pelo convívio com alguns mestres dessa área, entre os quais o Conde de Saint Germain, que conheceu em Paris, e de quem se tornou amigo, discípulo e irmão na Ordem Rosacruz e na Maçonaria.
Cagliostro viveu num tempo em que qualquer indivíduo bem intencionado podia freqüentar uma universidade a aprender a ciência que desejasse assistindo a aulas em diferentes lugares. Muitos cientistas, filósofos e matemáticos se formaram assim, viajando e estudando. Em cada cidade ou mosteiro que chegavam, podiam assistir às aulas que desejassem, desde que apresentassem uma prova de freqüência e conhecimento da matéria através de exames ou argüições orais. Ademais, em suas bagagens, carregavam livros ou tratados para estudar quando lhes conviesse. Assim muitos personagens da história gastaram boa parte de sua vida no aprendizado de alguma coisa em que depois acabaram se distinguindo. Alguns levaram vinte, trinta, quarenta anos viajando e estudando, até obterem o reconhecimento oficial que lhes era outorgado por esta ou aquela universidade. E foi assim que Alexandre Cagliostro, depois de haver freqüentado escolas de mistério e ocultismo, estudado Cabala com os judeus e Alquimia com os árabes, resolveu estudar Medicina, ampliando seus conhecimentos em suas viagens por diversos países e continentes, principalmente em seus contatos com a Ordem dos Terapeutas, herdeira das tradições da escola médica da Alexandria e da escola sacerdotal do Egito.
Como médico, realizou muitas curas, administrando miraculosos remédios de sua própria fabricação. Amigo de príncipes e de figuras da alta nobreza, embora não cobrasse por suas consultas, era regiamente recompensado com jóias, propriedades e dinheiro pelas curas extraordinárias que realizava em membros destas classes, o que então lhe permitia ir curar de graça aos pobres e ainda lhes dar assistência econômica, distribuindo remédios, agasalhos, comida e dinheiro por onde passava. Por isso ficou reconhecido como um grande benfeitor dos pobres e necessitados.
Isto naturalmente atraiu a atenção daqueles que exerciam normalmente a sua clínica, que passaram a acusá-lo de charlatanismo e de fazer concorrência desleal através de métodos não ortodoxos, embora tratasse e curasse sem nada cobrar aos pacientes desenganados por aqueles, o que por isso mesmo lhes causava ainda maior indignação. Muitos processos lhe foram movidos, acusando-o de exercício ilegal da medicina, mas era sempre absolvido pelos juízes que não viam nenhum crime em alguém que realizava curas sem cobrar nenhum vintém dos beneficiários, e que, além disso, sem nenhuma pretensão pessoal ou política, ainda lhes dava assistência econômica, apoio moral e espiritual.
Na corte francesa de Luis XVI conheceu grandes personalidades, entre as quais o Cardeal de Rohan, um príncipe da Igreja, de quem se tornou íntimo amigo e confidente.
Como este Cardeal desejava cair nas graças da rainha Maria Antonieta e soubera de sua intenção em adquirir um valioso colar, ofereceu-se para servir-lhe de avalista, adquiriu a jóia e a enviou através de uma emissária, a condessa de La Motte. Mas o colar acabou desaparecendo no caminho, sem chegar às mãos da soberana. Como a jóia havia sido adquirida a prestações, passou-se o primeiro mês e, com receio de não receberem o pagamento, os joalheiros levaram este fato ao conhecimento das autoridades. Quando o rei e a rainha souberam deste assunto, gerou-se um escândalo, envolvendo o Cardeal de Rohan, a Rainha, o Conde de Cagliostro e a Condessa, que acusava Cagliostro de ter ficado com o colar. Instituiu-se um processo, o Cardeal de Rohan foi condenado a indenizar o valor do colar por uma fortuna que o deixou arruinado, e a Condessa, sentindo-se irremediavelmente perdida, confessou ter forjado a história de que a rainha desejava adquirir o colar, ter falsificado a assinatura e o selo reais no contrato de compra e, finalmente, assumiu a autoria do furto e a venda, aos pedaços, da referida jóia.
Mas Cagliostro acabou sendo preso como cúmplice do cardeal e da condessa, do que logo se aproveitaram os seus inimigos na corte para lançar suspeitas sobre a origem de sua fortuna e o esbanjamento de dinheiro que fazia com os pobres, acusando-o de pródigo, falsário, impostor, charlatão, herege e feiticeiro.
Depois de passar algum tempo na prisão da Bastilha, Cagliostro foi deportado para a Itália e entregue ao Tribunal do Santo Ofício, que o condenou à prisão perpétua num calabouço, no Castelo de San Léo, onde morreu, aos cinqüenta e poucos anos, em l795.
Alexandre Cagliostro é uma figura menos emblemática e misteriosa do que a de seu amigo Saint Germain. Sua vida pública é quase um livro aberto, e aí está para ser avaliada. Alexandre Dumas, em Memórias de Um Médico, dedicou-lhe vários volumes. Ele e Saint Germain hoje são mestres ascensionados e auxiliares no grande esquema cósmico de redenção da humanidade. Quanto aos seus inimigos e detratores (os daquele tempo), não saberíamos dizer seus nomes, pois estavam escondidos atrás do anonimato de seus cargos e funções ... Mas certamente já receberam ou ainda estão recebendo a sua recompensa.

Luciano Machado

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