segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

VÍCIO E VIRTUDE

Há bens que além da obtenção honesta e difícil, também podem ser adquiridos de mão beijada, ou tomados pela força, roubando, ou através do constrangimento e da humilhação moral, como a submissão de alguém, dinheiro, prestígio, terras, imóveis, etc., e até ser legalizada a posse.
Outros, porém, não se adquirem senão pelo merecimento real ou pela virtude.
Os livros de história nos falam das “conquistas” de Nabucodonosor, de César, de Alexandre, de Carlos Magno, de Pizarro, de Cortez, de Napoleão, de Hitler ... -- e todas essas conquistas, nós sabemos, foram a tomada de territórios e a dominação de povos pela usurpação e pela força, como até hoje acontece. Isso é roubo, latrocínio, assalto, rapina, saque, pilhagem ou como queiram denominar – mas nunca verdadeira conquista.
Erroneamente a palavra ‘conquista’ tem sido empregada para designar esta obtenção violenta, humilhante ou vergonhosa de alguma coisa, ou o recebimento de algo sem nenhum mérito ou esforço pessoal por parte dos beneficiários além dos interesses de parte a parte, como a distribuição de terras e favores no Brasil colonial e depois no Brasil imperial, assim como também as marcas, os ducados e condados eram distribuídos com o correspondente título nobiliárquico aos amigos dos príncipes e dos reis para estabelecer com estes um pacto de defesa recíproca de interesses ou um acordo de vassalagem e subserviência, sem falar nos cargos de confiança, civis e eclesiásticos, nas promoções, nomeações e investiduras sem nenhum mérito pessoal, nas comendas mal havidas e nos títulos discutíveis de cavaleiro desta ou daquela ordem.
A verdadeira acepção da palavra conquista indica a obtenção das coisas pelo merecimento justo e pela dignidade, através do sacrifício consciente dos elementos que embrutecem o indivíduo, como o ódio, a vaidade, a inveja, a traição, a mentira, a tendenciosidade, os instintos e paixões mundanas: o vício. E o vício (moral ou físico) é fruto da ignorância e do fanatismo.
Não pode um falso, um mentiroso, um usurpador, um ladrão, um hipócrita, um corrupto, um tarado, um safado, um imoral ... merecer bens como o verdadeiro reconhecimento, o amor do próximo, a amizade sincera, a lealdade e a consideração da sociedade – pois estes são bens incompatíveis com os vícios morais e se conquistam pela Virtude (do latim Virtus), que é um atributo do Espírito, e que era cultivado com decência e nobreza nas antigas ordens de cavalaria.
Combatamos o vício, a degradação, a ignorância e o fanatismo em nós mesmos, com perseverança e auto-respeito pelo que somos e representamos perante Deus e a Natureza, e conquistaremos pela virtude os bens que almejamos, cuja falta nos causa tanto mal e tanta mágoa.

(Luciano Machado)

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