domingo, 19 de dezembro de 2010

NOS CAMPOS E VÁRZEAS DO ARMOUR E SÃO PAULO ...

Lá pelo ano de 1954 ou 1955, quando eu contava seis ou sete anos, acompanhando meu irmão mais velho, o Beline, perambulávamos por entre as plantações de ervilha dos campos e várzeas do Armour, que eram despovoados, e também para os lados da charqueada São Paulo, para caçar e pescar. Meu irmão tinha cinco cachorros, três galgos lebreiros e dois perdigueiros, que também nos acompanhavam nessas ocasiões por entre as colinas, várzeas e açudes onde havia todo o tipo de animais silvestres, desde ratões do banhado, patos, marrecos, garças e outras aves raras que vinham de longe, ali passavam o dia, e no final da tarde levantavam vôo para não sei onde. Mas o que caçávamos eram lebres e perdizes.
Morávamos no bairro Industrial, a meio caminho dos frigoríficos Armour e São Paulo. Depois da carreteira do Armour havia uma cerca, uma floresta de eucaliptos, outra cerca, e depois a estrada das tropas. A ‘estrada das tropas’ era assim chamada pelo fato de as tropas de gado e peru serem conduzidas por aquela estrada de chão, toda acidentada, cheia de altos e baixos, própria unicamente para servir de acesso a tropas de animais para abate no Armour. Depois da estrada das tropas, atravessando outra cerca, estendia-se uma vasta plantação de ervilhas e melancias, de propriedade da Swift-Armour, que abastecia a produção de conservas de ervilha em latas para serem exportadas.
E ali, no início daquela plantação de ervilhas, começava a nossa incursão de caça e de pesca. Mais do meu irmão do que minha. Pois eu apenas o acompanhava como assistente. Às vezes se juntava a nós outro caçador, chamado Juca Tigre, que tinha uma porção de cães malhados e usava uma escopeta. O Juca Tigre costumava caçar também patos e marrecos, com sua arma.
Outro lugar onde costumávamos ir eram as proximidades do Tajamar, depois da Charqueada São Paulo, e para além daquelas paragens, até as imediações dos grandes cerros, como o dos Munhoz (foto) e seus arredores.
Com um assobio o meu irmão chamava seus galgos e perdigueiros, que se vinham como flechas. E aí dava andamento à sua caçada de lebres e perdizes. Ao avistarem estes animais, os galgos saíam atrás como se voassem, e os capturavam vivos. Ao pegar uma lebre ou uma perdiz, seguravam-nas com suas patas dianteiras e não as deixavam fugir até que nos aproximássemos, o meu irmão com duas bolsas de estopa, onde as colocava ainda vivas, para mais tarde serem abatidas e preparadas em casa.
Eu me lembro que certa vez chegamos de manhã no campo das ervilhas e não encontramos nenhuma lebre ou perdiz. E então, pra não perder a viagem, o meu irmão resolveu pescar num dos açudes. Conseguiu apanhar um muçum. Uma espécie de peixe parecido com uma enguia, de mais ou menos 40 centímetros de comprimento.
Naquela manhã, perto do meio-dia, levamos o muçum para casa. Nossos pais e irmãs estavam ausentes. E então meu irmão o preparou, cortando-o em rodelas e colocando numa panela com água. Fiquei olhando para aquelas rodelas de muçum se mexerem na panela como se estivessem vivas. Mas depois de cozidas, com o próprio molho, ficaram, como se fosse um ensopado, muito saborosas.
Mas o bom mesmo eram as lebres e perdizes, preparadas de diversas formas, por minha mãe e minhas irmãs.
Nessas andanças pelos campos, coxilhas, matos, cerros, várzeas e açudes, o meu irmão costumava levar uma carrocinha, atrelada a um cão menor, o guarani, que servia para transportar o produto da caça e da pesca.


(Luciano Machado)

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