sábado, 25 de dezembro de 2010

AS PESSOAS E OS PORCOS ...

Eu esses dias li a seguinte manchete do jornal A Platéia: “Mesmo com lixeiras no local, maioria das pessoas joga lixo no chão do Parque Internacional.”
A respeito dessa questão – que é a EDUCAÇÃO DOS INDIVÍDUOS desde a mais tenra idade – eu me lembro dos meus tempos de colégio, no jardim da infância, no pré-escolar ou o seu equivalente, lá pelo ano de 1954. Ali as professoras nos ensinavam a lavar o rosto, incluindo as orelhas; a escovar os dentes ao levantar e após as refeições; como sentar-se à mesa; como segurar corretamente os talheres; não cuspir nem jogar nada no chão; não gritar; como andar no passeio público sem prejudicar as outras pessoas ou o espaço alheio e principalmente uma coisa: não ser porco nem relaxado. Naquele tempo as boas maneiras integravam, nas escolas, o currículo do ensino básico e fundamental.
Portanto, diante daquela manchete de A Platéia, eu imediatamente pensei o seguinte: a pessoa que escreveu esta manchete é muito educada; teve a delicadeza de grafar ‘pessoas’ em lugar de ‘porcos’ ...
Ora, jogar lixo no chão é coisa de porcos e não de pessoas, mas na acepção figurada e pejorativa da palavra ‘porcos’, refere-se a humanos, visto que os animais, entre os quais o porco, são asseados, e se porventura são criados em locais imundos, eles não têm culpa; a culpa é dos relaxados que os criam assim.
Há uns vinte anos ou mais, perto da época de natal, eu e o professor Juca Sampaio fomos, num domingo de tarde, lá no acampamento dos ‘sem terra’, adiante do Tajamar. Chegamos sem nenhum aviso prévio e o pessoal estava sesteando. Batemos palmas o chefe do acampamento levantou-se e veio nos receber. Era um engenheiro agrônomo. Perguntou-nos qual o motivo de nossa visita e lhe dissemos que desejávamos comprar um ou dois cordeiros abatidos para assar.
O cidadão, enquanto nos mostrava uma bela plantação de alfaces sob uma tela que a protegia do sol, respondeu que naquele momento não estavam criando cordeiros para abate nem para vender, pois a inspetoria veterinária estava investigando uma espécie de febre naqueles animais e havia recomendado que não fossem abatidos nem comercializados.
Mas perguntou-nos se não estaríamos interessados em leitões, pois estes sim estavam liberados para a venda e para o abate. E levou-nos até o lugar onde eram criados. Como eu e o Juca estávamos acostumados a ver porcos serem criados no charco e na lama, comendo todo o tipo de sujeira, lavagens e restos de alimento, ficamos impressionados com o asseio e a assepsia do local, todo revestido de azulejos brancos, ao ponto de sentirmos no ar um agradável perfume de lavanda.
-- Qual é o alimento desses leitões? -- perguntamos.
-- Eles se alimentam de farelo de milho e de ração rigorosamente selecionada – nos respondeu o engenheiro e pegou um filhotinho do chão.
Confesso que, diante daquela imagem de inocência e beleza, eu e o Juca ficamos completamente desencorajados da idéia de comer leitão assado.
Mas esta viagem que fizemos ao acampamento dos sem terra, longe de ter sido perdida, nos serviu para conhecer o lado positivo do meio rural, com a criação racional e metódica de animais, com base nos melhores e mais rigorosos preceitos de higiene e segurança. E ficamos convencidos de uma coisa: os porcos não são ‘porcos’. A porcaria, material e mental, provém dos seres humanos que não obtiveram, em suas casas ou na escola, a noção do que é ser uma pessoa civilizada, e uma coisa tão elementar: não aprenderam que não se deve jamais cuspir ou jogar lixo no chão.

(Luciano Machado)

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