sexta-feira, 18 de julho de 2014


“ABRAÇADO AO MEU RANCOR”






É o título de um livro e de um conto de João Antônio Ferreira Filho – João Antônio – escritor paulista nascido em 1937 e falecido no Rio de Janeiro em 1996.

Nesse conto João Antônio faz uma severa crítica à sociedade, pelo egoísmo e abandono de seus valores e irmãos menos favorecidos.

Depois de uma trajetória literária que começou em 1963 e culminou com a sua morte em 1996, João Antônio se destacou, ao lado do seu conterrâneo Plínio Marcos, como um historiador da vida noturna e boêmia paulista, entre as décadas de 1940 a 1960.

Valho-me do título desse conto do João Antônio porque ele bem caracteriza o estado anímico dos que vivem realmente abraçados ao seu rancor e dele não abrem mão. Pelo contrário, o realimentam, constantemente, com esse ódio progressivo por seus semelhantes. E aqui o termo “semelhantes” está corretamente empregado, porque todos, brancos, negros, pobres e ricos, são feitos da mesma essência ou matéria prima.

Esse ódio, infelizmente, vai se acumulando e transformando em rancor ( uma espécie de cancro espiritual que vai corroendo as pessoas por dentro), o que não é aconselhável nem saudável para ninguém.

Por falta de uma orientação adequada, educacional, moral, filosófica e espiritual, muitos se entregam a esse deletério círculo vicioso: enquanto alguns roubam e se locupletam com o dinheiro público, outros ficam se acusando ou jogando a culpa dos seus problemas na sociedade, no partido adversário ou num governo que eles mesmos escolheram ou ajudaram a eleger.

Talvez tenha sido por isso que, ao longo da história, alguns indivíduos resolveram abandonar a sociedade, inclusive a própria família, para irem viver como vagabundos ou eremitas, afastando-se do mundo dito civilizado e dos seus habitantes, para não continuarem se contaminando com as mazelas, rixas e odiosidades daqueles que pregam a discórdia e a cizânia, e vivem, como disse João Antônio, abraçados ao seu próprio rancor.









Luciano Machado

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