FRANCISCO I
Tentar
sobreviver em Porto
Alegre pagando aluguel e ganhando pouco é para pessoas muito
valentes e corajosas.
Pois o meu amigo Francisco foi morarem Porto Alegre no final da década de 60 e lá viveu
por quarenta anos, comprando e vendendo plantas de todos os tipos que adquiria
na CEASA e depois revendia com algum lucro.
Quando o visitei e conheci pela primeira vez, sendo portador de uma carta de sua sobrinha, fui encontrá-lo num velho edifício perto da estação rodoviária. Ali alugava um pequeno quarto no terraço e vivia sozinho com um gato, seus livros, seu rádio a pilhas, um violão e um binóculo com o qual vasculhava os arredores.
Ao perguntar por seu nome na portaria do velho prédio de dez andares, me mandaram subir uma escada de madeira até o alto do edifício, pois não tinha elevador.
Assim fiz. Subi a escada de madeira até o topo, indo desembocar numa porta fechada, onde bati.
Quem é ? – me disse uma voz.
Sou um emissário de sua sobrinha.
A porta se abriu e apareceu um cidadão simpático e bem apessoado de pequena estatura que, sorrindo, me disse:
Você é o Luciano.
Como sabe ?
Minha sobrinha ligou ontem para a casa do meu irmão e me avisou que você trazia uma carta. Anda a pé?
Não. Ando de automóvel. Deixei estacionado lá em baixo.
Não se preocupe. Ninguém vai mexer no seu carro. Aqui todo mundo me conhece e meus amigos são bem tratados pelo pessoal do prédio e das mulheres que fazem ponto na calçada. Tem alguma coisa dentro do carro?
Não. Apenas uma sacola com roupas, pois depois daqui vou para o Hotel De Conto, lá na Av. Farrapos.
Não convido para ficar aqui porque o meu quarto é muito pequeno e este edifício não tem hóspedes. Sou o único e último mensalista há mais de dez anos, quando aqui ainda funcionava um bom hotel. Hoje serve apenas para encontros de casais, de malandros e prostitutas. Mas conheço todo mundo e todos me respeitam. Me chamam de “Tio Chico”. Um dia me acidentei aí em baixo, ao atravessar a Voluntários. Fui atropelado por um ônibus. Me quebrei todo. Mas fui socorrido pelas mulheres da vida e pelos denominados “malandros” que chamaram um táxi e me levaram para o Pronto Socorro, onde fui atendido e engessado. Sou muito grato a todos esses amigos e amigas.
Depois de me contar estes fatos, pegou duas cadeiras de alumínio e me convidou para sentar naquela pranchada de cimento do terraço do prédio -- que só de lembrar que não tinha nenhuma parede ou muro de proteção em volta me dá vertigem -- que lhe servia de pátio ao ar livre para dormir no verão, para estender suas roupas e ao mesmo tempo como observatório astronômico do céu noturno com o seu binóculo de longo alcance.
E ali ficamos, na penumbra da noite, sob a luz da lua e das estrelas, conversando das sete até às nove e meia da noite, quando então o convidei para irmos jantar numa churrascaria que ficava perto do Hotel De Conto, onde eu ia me hospedar e onde já aproveitaria para deixar reservado um quarto com a minha bagagem. Assim fizemos. E aqui termina a primeira parte desta narrativa. O próximo capítulo terá o título de Francisco II.
Pois o meu amigo Francisco foi morar
Quando o visitei e conheci pela primeira vez, sendo portador de uma carta de sua sobrinha, fui encontrá-lo num velho edifício perto da estação rodoviária. Ali alugava um pequeno quarto no terraço e vivia sozinho com um gato, seus livros, seu rádio a pilhas, um violão e um binóculo com o qual vasculhava os arredores.
Ao perguntar por seu nome na portaria do velho prédio de dez andares, me mandaram subir uma escada de madeira até o alto do edifício, pois não tinha elevador.
Assim fiz. Subi a escada de madeira até o topo, indo desembocar numa porta fechada, onde bati.
Quem é ? – me disse uma voz.
Sou um emissário de sua sobrinha.
A porta se abriu e apareceu um cidadão simpático e bem apessoado de pequena estatura que, sorrindo, me disse:
Você é o Luciano.
Como sabe ?
Minha sobrinha ligou ontem para a casa do meu irmão e me avisou que você trazia uma carta. Anda a pé?
Não. Ando de automóvel. Deixei estacionado lá em baixo.
Não se preocupe. Ninguém vai mexer no seu carro. Aqui todo mundo me conhece e meus amigos são bem tratados pelo pessoal do prédio e das mulheres que fazem ponto na calçada. Tem alguma coisa dentro do carro?
Não. Apenas uma sacola com roupas, pois depois daqui vou para o Hotel De Conto, lá na Av. Farrapos.
Não convido para ficar aqui porque o meu quarto é muito pequeno e este edifício não tem hóspedes. Sou o único e último mensalista há mais de dez anos, quando aqui ainda funcionava um bom hotel. Hoje serve apenas para encontros de casais, de malandros e prostitutas. Mas conheço todo mundo e todos me respeitam. Me chamam de “Tio Chico”. Um dia me acidentei aí em baixo, ao atravessar a Voluntários. Fui atropelado por um ônibus. Me quebrei todo. Mas fui socorrido pelas mulheres da vida e pelos denominados “malandros” que chamaram um táxi e me levaram para o Pronto Socorro, onde fui atendido e engessado. Sou muito grato a todos esses amigos e amigas.
Depois de me contar estes fatos, pegou duas cadeiras de alumínio e me convidou para sentar naquela pranchada de cimento do terraço do prédio -- que só de lembrar que não tinha nenhuma parede ou muro de proteção em volta me dá vertigem -- que lhe servia de pátio ao ar livre para dormir no verão, para estender suas roupas e ao mesmo tempo como observatório astronômico do céu noturno com o seu binóculo de longo alcance.
E ali ficamos, na penumbra da noite, sob a luz da lua e das estrelas, conversando das sete até às nove e meia da noite, quando então o convidei para irmos jantar numa churrascaria que ficava perto do Hotel De Conto, onde eu ia me hospedar e onde já aproveitaria para deixar reservado um quarto com a minha bagagem. Assim fizemos. E aqui termina a primeira parte desta narrativa. O próximo capítulo terá o título de Francisco II.
Luciano Machado
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