quarta-feira, 18 de junho de 2014

ANTONIO AUGUSTO CADEMARTORI


Depois de ter escrito sobre seu pai, seu tio e sua mãe, reservei esta página para lembrá-lo de um modo muito especial. 

Na verdade, devo a ele a oportunidade de meu primeiro emprego, na empresa de seu pai, de que ele era um dos principais sócios administradores, juntamente com sua mãe, dona Conceição, sua esposa, dona Zulma e sua irmã dona Flora Cademartori Mendina.

Por determinação sua, ingressei na empresa em 1963, em caráter de experiência e estágio, fui efetivado em janeiro de 1965 e nela me mantive até janeiro de 1980, quando, aprovado em concurso público, me afastei para assumir como funcionário do Banco do Brasil.

Foram praticamente quinze anos de convívio, período em que me integrei profissionalmente à empresa e me tornei amigo de toda a família, laços de amizade e cordialidade que ainda hoje mantenho com seus filhos Sylvio, Paulo de Tarso e João Francisco.

E é por mim e por eles, e também por dona Zulma, que lembro de Antonio Augusto, e que bem sei compartilharão comigo esta grata e carinhosa recordação.

Antonio Augusto foi uma das pessoas mais sensíveis e magnânimas que conheci, e seus amigos hão de concordar comigo.

Se por vezes se aborrecia com alguém ou pudesse parecer momentaneamente zangado por algum motivo, no fundo da alma era um homem extremamente bondoso, e daí a momentos se mostrava de uma indulgência e generosidade tão grandes que ninguém podia se sentir magoado.  Era preciso conhecê-lo para saber o quanto queria bem a seus funcionários e se preocupava com o bem estar geral, muito mais talvez do que consigo mesmo.

Uma prova disso era meter-se de terno e gravata embaixo de um veículo em conserto na oficina que funcionava nos fundos do prédio da empresa para examinar pessoalmente um problema mecânico, saindo de lá tão sujo que a dona Zulma ficava indignada.  Mas Antonio Augusto respondia com um sorriso e um dar de ombros.  Para ele, isso não tinha a menor importância.  Tirava o casaco, arregaçava as mangas, lavava-se e voltava para o seu gabinete de trabalho.

A todos atribuía um espirituoso e carinhoso apelido.  Havia o Garrão de Vidro, o Punhalada,  o Chirú, o Gar, o Mulita,  o General, o Coringa, o Prates, o Dudu, o Nonô, o Baldi, o Lúcius e o Conde (assim chamava o seu tio Benito por este residir na rua Conde de Porto Alegre) e assim por diante.

Era hábito seu mandar pintar as tampas dos motores dos jipes novos da firma, na medida em que iam sendo adquiridos, e que chegaram ao número de doze, cada um de uma cor diferente, para melhor identificá-los, pelo capô, como o preto, o vermelho, o cinza, o amarelo, o verde, o azul, etc., assim como mandar erguer e reforçar a suspensão dos veículos novos, recém adquiridos, especialmente das camionetas Ford e Chevrolet, assim que chegavam dos concessionários, para melhor enfrentarem as estradas de campanha.

E quando o seu pai lhe perguntava por que estava alterando as características dos veículos, ele respondia com um sorriso:

-- Isto é para que o Dr. Vallejo (o mecânico da empresa) não fique sem fazer nada ...

Nas imediações do prédio da firma morava um cidadão a que ele chamava de “engenheiro Monteiro” ou “professor Monteiro”, porque o Monteiro pra tudo tinha uma solução com o seu gênio sábio e inventivo.  Quando havia algum problema aparentemente insolúvel, ele dizia:

-- Chamem o professor Monteiro !

Antonio Augusto gostava de se certificar pessoalmente, e às vezes arriscadamente, de tudo o que estava acontecendo. Isto gerava lances bem pitorescos de sua jovial e destemida personalidade.  Numa tarde chuvosa, depois de sair pela porta do seu gabinete, desapareceu do recinto da firma.  Procurado por toda parte, não foi encontrado.  O guarda e o porteiro juravam que não havia saído à rua pelo portão dos fundos ou pela porta do  prédio do escritório.  Também não estava nos depósitos ou na oficina mecânica.  A tarde caía e ninguém sabia informar o paradeiro do chefe.  Onde estaria Antonio Augusto?

De repente ele desceu por uma escada.  Estava em cima do telhado, verificando um problema de goteiras com o Monteiro ...

Afeiçoado à sua terra por laços de carinho e amizade, e sem nenhum interesse político, nunca deixava de atender a um pedido de auxílio para as instituições caritativas e paróquias da cidade.

Antonio Augusto faleceu repentinamente em 1979, aos 48 anos de idade, sem ter a felicidade de conhecer seus netos, mas deixou-nos a certeza de que seria um avô tão dedicado a eles como o foi como pai, educador e amigo de seus filhos.

Por tudo isso e muito mais, Antonio Augusto Machado Cademartori permanece na memória e no coração de todos nós ...


Luciano Machado

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