ANTONIO AUGUSTO CADEMARTORI
Depois de
ter escrito sobre seu pai, seu tio e sua mãe, reservei esta página para
lembrá-lo de um modo muito especial.
Na verdade,
devo a ele a oportunidade de meu primeiro emprego, na empresa de seu pai, de
que ele era um dos principais sócios administradores, juntamente com sua mãe,
dona Conceição, sua esposa, dona Zulma e sua irmã dona Flora Cademartori
Mendina.
Por
determinação sua, ingressei na empresa em 1963, em caráter de experiência e
estágio, fui efetivado em janeiro de 1965 e nela me mantive até janeiro de
1980, quando, aprovado em concurso público, me afastei para assumir como
funcionário do Banco do Brasil.
Foram
praticamente quinze anos de convívio, período em que me integrei
profissionalmente à empresa e me tornei amigo de toda a família, laços de
amizade e cordialidade que ainda hoje mantenho com seus filhos Sylvio, Paulo de
Tarso e João Francisco.
E é por mim
e por eles, e também por dona Zulma, que lembro de Antonio Augusto, e que bem
sei compartilharão comigo esta grata e carinhosa recordação.
Antonio
Augusto foi uma das pessoas mais sensíveis e magnânimas que conheci, e seus
amigos hão de concordar comigo.
Se por
vezes se aborrecia com alguém ou pudesse parecer momentaneamente zangado por
algum motivo, no fundo da alma era um homem extremamente bondoso, e daí a
momentos se mostrava de uma indulgência e generosidade tão grandes que ninguém podia
se sentir magoado. Era preciso
conhecê-lo para saber o quanto queria bem a seus funcionários e se preocupava
com o bem estar geral, muito mais talvez do que consigo mesmo.
Uma prova
disso era meter-se de terno e gravata embaixo de um veículo em conserto na
oficina que funcionava nos fundos do prédio da empresa para examinar
pessoalmente um problema mecânico, saindo de lá tão sujo que a dona Zulma
ficava indignada. Mas Antonio Augusto
respondia com um sorriso e um dar de ombros.
Para ele, isso não tinha a menor importância. Tirava o casaco, arregaçava as mangas,
lavava-se e voltava para o seu gabinete de trabalho.
A todos
atribuía um espirituoso e carinhoso apelido.
Havia o Garrão de Vidro, o Punhalada, o Chirú, o Gar, o Mulita, o General, o Coringa, o Prates, o Dudu, o
Nonô, o Baldi, o Lúcius e o Conde (assim chamava o seu tio Benito por este residir
na rua Conde de Porto Alegre) e assim por diante.
Era hábito
seu mandar pintar as tampas dos motores dos jipes novos da firma, na medida em
que iam sendo adquiridos, e que chegaram ao número de doze, cada um de uma cor
diferente, para melhor identificá-los, pelo capô, como o preto, o vermelho, o
cinza, o amarelo, o verde, o azul, etc., assim como mandar erguer e reforçar a
suspensão dos veículos novos, recém adquiridos, especialmente das camionetas
Ford e Chevrolet, assim que chegavam dos concessionários, para melhor
enfrentarem as estradas de campanha.
E quando o
seu pai lhe perguntava por que estava alterando as características dos
veículos, ele respondia com um sorriso:
-- Isto é
para que o Dr. Vallejo (o mecânico da empresa) não fique sem fazer nada ...
Nas imediações
do prédio da firma morava um cidadão a que ele chamava de “engenheiro Monteiro”
ou “professor Monteiro”, porque o Monteiro pra tudo tinha uma solução com o seu
gênio sábio e inventivo. Quando havia
algum problema aparentemente insolúvel, ele dizia:
-- Chamem o
professor Monteiro !
Antonio
Augusto gostava de se certificar pessoalmente, e às vezes arriscadamente, de
tudo o que estava acontecendo. Isto gerava lances bem pitorescos de sua jovial
e destemida personalidade. Numa tarde
chuvosa, depois de sair pela porta do seu gabinete, desapareceu do recinto da
firma. Procurado por toda parte, não foi
encontrado. O guarda e o porteiro
juravam que não havia saído à rua pelo portão dos fundos ou pela porta do prédio do escritório. Também não estava nos depósitos ou na oficina
mecânica. A tarde caía e ninguém sabia
informar o paradeiro do chefe. Onde
estaria Antonio Augusto?
De repente
ele desceu por uma escada. Estava em
cima do telhado, verificando um problema de goteiras com o Monteiro ...
Afeiçoado à
sua terra por laços de carinho e amizade, e sem nenhum interesse político,
nunca deixava de atender a um pedido de auxílio para as instituições
caritativas e paróquias da cidade.
Antonio
Augusto faleceu repentinamente em 1979, aos 48 anos de idade, sem ter a
felicidade de conhecer seus netos, mas deixou-nos a certeza de que seria um avô
tão dedicado a eles como o foi como pai, educador e amigo de seus filhos.
Por tudo
isso e muito mais, Antonio Augusto Machado Cademartori permanece na memória e
no coração de todos nós ...
Luciano
Machado
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