sexta-feira, 20 de junho de 2014

DON OMAR GARCIA DE LAPUENTE


Uma das pessoas mais corretas, educadas e amáveis que conheci foi o meu  chefe,  colega e amigo Dídimo Omar Garcia de Lapuente.

O Sr. Omar era o chefe encarregado dos depósitos de madeira, sob cuja responsabilidade estava o controle dos registros de estoques de tábuas dos mais diversos tipos e medidas destinados à exportação para o Uruguai e Argentina.

No Uruguai, o nosso representante comercial em Montevidéu era o Sr. Carlos Guldenzoph; e na Argentina, em Buenos Aires, o nosso amigo Mauro Méli.

No escritório que dividíamos entre diversos setores, o Sr. Omar Lapuente ocupava uma bela escrivaninha  de madeira trabalhada, com tampa retrátil e chaveada, onde guardava todos os seus arquivos e documentos.

Quando precisávamos qualquer informação a respeito de disponibilidade de estoque, o Sr. Omar no-la fornecia prontamente, e quando recebíamos as cartas de crédito em inglês ou espanhol, imediatamente a passávamos para que ele verificasse o tipo de madeira, as bitolas  e a quantidade, e já entrasse em contato com o amigo Garibaldi, que era o capataz dos depósitos, para que a madeira fosse separada e preparada para o carregamento, que era feito nos vagões uruguaios da A.F.E. – Administración  de Ferrocarriles Del Estado --  que tinham acesso aos nossos depósitos de madeira através do recinto da viação férrea brasileira.

Alto, magro, sempre elegante e bem vestido, usando chapéu e com o seu cabelo e bigode já grisalhos, o Sr. Omar era um homem distinto, austero, culto  e extremamente educado, e uma de suas maiores características era a de que não brincava em serviço, sempre sério e compenetrado em seus afazeres.

Nem mesmo o incorrigível  Adão Prates Paulo, nosso estimado colega e grande humorista que não levava ninguém livre, conseguia desviar sua atenção ou fazê-lo rir com seus chistes, brincadeiras e anedotas.

Mas lá um dia o Sr. Omar nos surpreendeu, ao contar-nos um fato hilário e verdadeiro.

Tinha ele ido com a família e um parente seu ao Restaurante El Galeón, em Rivera, num sábado à noite.  O restaurante estava lotado.  Seu parente havia chegado de campanha e estava com enorme apetite, e pediu ao garçom que lhe trouxesse um entrecot de la casa, que era uma das especialidades de El Galeón.

Quando todos os pratos foram servidos, o parente se atracou de garfo e faca no enorme bifão, com tanta avidez que este resvalou do prato e voou, indo pousar no decote de uma dama da mesa ao lado.  A mulher, apavorada, não sabia o que fazer, quando o dono do bife se ergueu da cadeira se foi, de garfo em punho, retirando o seu manjar  do decote da aflita senhora.

Este memorável incidente, no Restaurante El Galeón, na década de 60, foi talvez o único episódio, de que eu me lembro, que fez o Sr. Omar Lapuente sair fora do sério, no ambiente de trabalho, ao narrar-nos esse fato com detalhes.

O amigo Omar Lapuente é uma das pessoas cuja lembrança eu guardo com saudade, entre os meus chefes, mestres e colegas de trabalho, na extinta e valorosa empresa Sylvio P. Cademartori, Exportações de Madeira Ltda.

Luciano Machado



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