O PAÍS DO CARNAVAL, DA RELIGIOSIDADE E DO FUTEBOL
(Crônica originalmente publicada em junho de 2010)
No
dia 15 de junho de 2010, com a estréia da Seleção Brasileira na Copa da África,
ficou mais uma vez demonstrado como a nossa participação na Copa tem o poder de
paralisar quase todos, senão todos os setores de atividade, agregar as pessoas
e mobilizá-las para assistir a uma competição, vibrar, aplaudir e fazer festa.
Nesta terça-feira, foram centenas de
milhares de brasileiros de todas as idades, cores, religiões e condições
sociais, nos diversos Estados, abandonando suas casas e saindo às ruas para
festejar a vitória brasileira no seu primeiro jogo.
Assistindo a essas manifestações de
entusiasmo, alegria e contentamento do povo brasileiro, vimos a espontaneidade
e a facilidade com que a multidão rapidamente ganhou às ruas para festejar a vitória
por 2 x 1 de nossa Seleção contra a Coréia do Norte. Imagino o que não acontecerá se o Brasil,
mais uma vez, sagrar-se campeão mundial.
Esse povo irá à loucura.
Isso prova, mais uma vez, que existe
entre nós, em relação ao futebol, um grande sentimento de nacionalidade.
Igualmente constatamos que,
especialmente no Brasil, o Carnaval, a Religiosidade e o Futebol são os três
grandes fatores mágicos capazes de magnetizar a atenção e mobilizar a
sociedade.
E é justamente nesses momentos de
descuido em que as pessoas estão concentradas, alheias ao mundo e por demais atentas
ao seu objeto maior de interesse que se realizam os assaltos e roubos
domiciliares, e algures, nos bastidores da política, alguns dos eleitos e bem
remunerados inimigos do povo também aproveitam a oportunidade para tramar seus
ardilosos planos contra a economia, as finanças, o bem estar social e o
patrimônio público, que vão desde reuniões a portas fechadas, até conluios e acordos
ultra-secretos para golpear a boa fé e os interesses da sociedade brasileira.
Portanto, quando alguém manifesta
sua opinião em relação ao contra-senso dos que vão ao delírio em função da
emotividade e do sentimentalismo -- enquanto por outro lado se deixam passivamente
enganar, humilhar, esbofetear e roubar -- não é porque seja um alienado ou
desmancha-prazeres, mas porque procura encarar a realidade e ainda alimenta
algum sentimento de responsabilidade cívica, de indignação e de patriotismo.
Ah, se pudesse o nosso descuidado,
mal fiscalizado e sofrido País contar com essa mesma disposição e esse mesmo
entusiasmo dos cidadãos brasileiros em relação à Copa do Mundo para sair às
ruas e bradar a sua indignação e inconformidade contra a patifaria, a corrupção
e a ladroagem instituídas, aí as coisas seriam bem diferentes.
Luciano Machado
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