quarta-feira, 18 de junho de 2014


FRANCISCO (III)







Na crônica anterior com o mesmo título FRANCISCO (II) falava de uma pessoa que havia quarenta anos morava na capital.

Ele conhecia Porto Alegre como a palma de sua mão, desde as praças, ruas, vielas e becos do centro, com suas lojas, hotéis, bancos, museus, livrarias, repartições, abrigos de ônibus, salões, bares, cafés e restaurantes, até os bairros e vilas da periferia.

Como costumava andar a pé ou de ônibus, ele conhecia o povo e a malandragem das ruas, e sabia como se comportar em via pública.

“Quando alguém vem a Porto Alegre”, me dizia ele, “deve se vestir com uma roupa e calçados bem simples, se possível os mais velhos e surrados que tiver, e nada de joias como aneis, brincos, pulseira, correntes ou relógios. E ninguém, nem por brincadeira, queira ser diferente ou chamar a atenção. Porque os malandros estão de olho.”

Enquanto me dizia isto numa ocasião em que conversávamos no balcão de um bar da Rua da Conceição, onde tomávamos um café, olhando para fora através da vitrine perguntou se eu estava enxergando um sujeito de chapéu e óculos escuros encostado numa parede do outro lado da rua.

Disse que sim.

“Pois é um dos maiores assaltantes e gatunos que rondam por aqui. Por baixo daqueles óculos escuros está nos observando. Ele viu quando entramos neste bar, prestou atenção nas tuas roupas novas, na tua bolsa a tiracolo, nos teus sapatos de cromo alemão e no teu relógio de pulso ... Avaliando a tua roupa, a capanga, o sapato e relógio, isso deve valer mais de dois mil, fora o dinheiro que tu trazes no bolso. Isso é um perigo e um grande fator de risco para tua pessoa. Eu, se fosse tu, andaria bem mais desarrumado.”

Essa foi uma das lições que aprendi com o meu saudoso amigo Francisco, um homem simples e um verdadeiro sábio que já se foi deste mundo, e que me ensinou muitas coisas que oportunamente ainda vou relatar.

Agora, graças ao conselho do meu amigo Francisco, sempre que viajo, além de um vestuário simples, levo apenas uma toalha e uma muda de roupa numa sacola comum.

Com essa pequena bagagem, me aventuro por onde quiser, e sem nenhum receio de ser assaltado, pois, como dizia ele, assim sou mais um do povo.









Luciano Machado

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