UM CASAL DE AMIGOS - FLORA E RAMÃO MENDINA
Quem tem, ainda que seja como
empregado, o privilégio de viver no campo, sabe como é saudável deitar cedo e
acordar antes do amanhecer, fazendo um fogo de chão e colocando sobre a trempe
uma chaleira, enquanto prepara o chimarrão e ouve lá fora os primeiros cantares
da passarada. Tais pessoas são
testemunhas do que é a beleza, a magia e o esplendor dos nossos pagos ao
alvorecer.
Pois eu tive esse prazer que me faz
orgulhoso de nossa região campesina de fronteira e me sinto grato por essa
oportunidade. É preciso que aqueles que
vivem na cidade, encerrados em suas casas ou apartamentos, experimentem passar
pelo menos um fim de semana em uma fazenda no interior do município,
principalmente agora que temos hotéis-fazenda a poucos quilômetros da cidade.
Mas eu na verdade queria falar de um
casal muito querido e simpático que constitui um exemplo de todo o amor,
amizade e companheirismo que pode existir entre um homem e uma mulher que vivem
juntos há mais de 60 anos e que trabalhavam não faz muito tempo na campanha, em
seu estabelecimento pecuário, lado a lado com seus empregados, e assim, nesse
ambiente saudável, criaram e educaram seus filhos.
Eu afirmo isso porque sei o que eram essas
pessoas para o trabalho de banhar o seu próprio gado e realizar tantas outras
tarefas campeiras ao lado de seu capataz e de seus empregados rurais. Eu era funcionário, na cidade, da empresa de
que eles eram sócios, e certa vez recebi a incumbência de substituir um colega
e ir lá fora pagar os empregados.
Era uma
manhã de inverno, no mês de agosto, quando eu e o Eduardo Lopes, que era o
motorista, chegamos à fazenda e encontramos esse casal lidando com o gado
dentro de uma mangueira. Ao nos verem
chegar, vieram ao nosso encontro como se fôssemos visitas importantes, e já
foram dizendo, muito alegres: “Hoje vocês vão almoçar conosco!”
Eu e o Eduardo tínhamos que retornar
à cidade antes do meio dia, mas eles não nos deixaram, apesar de eu dizer que
não queríamos atrapalhar o serviço da fazenda.
-- Vocês não atrapalham coisa
nenhuma. Vão ficar para almoçar.
Diante da amável insistência desse
casal, o que, aliás, também era uma ordem, não tivemos outro jeito senão
ficar. E ela foi pessoalmente preparar
uma gostosa feijoada com lingüiça e toucinho de porco.
Depois do almoço, delicioso, e após
o pagamento dos empregados, nos acompanharam num passeio pelos arredores da
casa da fazenda, mostrando-me (pois o Eduardo já conhecia) todas as dependências.
E aquela missão de que fôramos incumbidos se transformou
num passeio campestre maravilhoso, ao lado de nossos patrões, amigos e
anfitriões Ramão Flores Mendina e Flora Cademartori Mendina.
Hoje, por motivos de saúde, não saem mais de
sua residência na cidade. A eles, desde
aqui, eu mando o meu abraço e meus votos de que Deus lhes dê saúde, proteja e
abençõe.
Luciano Machado
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